tag:blogger.com,1999:blog-60621602085756375832024-02-20T11:24:14.204-03:00Identidade de um euBruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.comBlogger466125tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-76842623814824999872022-12-19T18:58:00.001-03:002022-12-19T19:06:46.789-03:00Carta aberta para Leonardo Davino<p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;">Querido Léo,</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;">acabei de ler seu livro <i>Domingou a pandemia </i>e escrevo imediatamente após encerrá-lo. Recordo apenas de um ou outro texto ter lido no Facebook, mas como ando avesso a redes sociais, a maioria dos registros de seu diário pandêmico era ainda desconhecida. Durante a leitura, tive o desejo de escrever uma resenha mais acadêmica para publicar em algum periódico, mas, devido a nossa amizade e, sobretudo, ao meio pelo qual semanalmente você publicava, penso ser mais apropriado dizer no blog de forma menos formal o que seu livro despertou em mim.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;">Em primeiro lugar e antes de mais nada, seu receio confidenciado no dia do lançamento de que o livro poderia soar anacrônico é totalmente injustificável. Como disse naquele dia, você publicava ainda no calor da hora e com uma mesma temática, muito diferente do meu projeto de publicar os posts de meu blog. Seu livro é excelente e traça um panorama muito interessante da atualidade, afinal, ainda se morre de Covid-19 nos últimos dias do desgoverno do presidento.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;">Você sabe que pesquisei por um bom tempo escritas de si e cheguei a publicar algumas coisas a esse respeito. Mas essa não foi a única razão de me deliciar com seu mais recente livro. Do mesmo modo que os textos dos ex-exilados eram mais que uma escrita de si, mas de toda uma geração que vivenciou os horrores da ditadura militar, <i>Domingou a pandemia</i> também cumpre a função de um eu compartilhado com os outros, em um exercício de alteridade ímpar. Em vários momentos, inclusive, percebi certa monotonia, mas isso não é em absoluto uma crítica, justo o contrário (recorde-se que Mário de Andrade rotulou a literatura de Machado de monótona). A monotonia à qual me refiro diz respeito ao isolamento social, que nos fez a todos permanecer em casa nutrindo os mesmos hábitos diários em busca da sobrevivência. E resistimos, apesar do presidento.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;">Durante o primeiro ano da pandemia, reli <i>Decamerão</i> de Boccaccio e <i>A peste</i> de Camus, obras maravilhosas de dois momentos parecidos com o que (ainda) vivemos. Seu livro deu uma outra perspectiva literária para um momento tão difícil. E, posso dizer sem medo, que serviu, enquanto era escrito seriadamente no Facebook, como formação de irmandades e redes de solidariedade que você tanto preza e prezou. Da mesma maneira que havia quem se despusesse a cantar e a tocar instrumentos nas janelas, como alguns vizinhos meus e tantos outros por aí; que houve uma proliferação de lives das mais diversas; que se buscou alento nas artes em geral para suportar a dura realidade; seus posts cumpriram igualmente esse papel para quem os acompanhava domingo a domingo. E não se preocupe porque a reunião deles em livro é de uma forma tão coesa e bonita que em nada prejudica a publicação pela editora com a qual você manifestou desejo de publicar. A propósito, ótima iniciativa do editor responsável.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;">A leitura imediatamente anterior que eu havia feito foi <i>A civilização do espetáculo</i>, do Mario Vargas Llosa. Ele apresenta uma verve bastante crítica e ácida à espetacularização que vivemos hoje, à cultura de massas, de certa forma num tom bastante adorniano no clássico ensaio A indústria cultural. Confesso que partilho do pessimismo deles, talvez por isso, dentre outras questões, me ausente das redes sociais, embora reconheça que há vida inteligente em qualquer lugar, mas o que mais me incomoda é a patrulha ideológica que reina pelos feicibuques da vida. Como você escreveu uma escrita de si e adoto o formato de carta, falo de mim também e aproveito para reativar o blog, há muito desatualizado. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;">O contraditório disso é que, por mais que me sinta propenso a concordar com Adorno e Vargas Llosa, é impossível hoje eu não me integrar também à cultura de massas. Eu a vivo diariamente e dela faço meu lazer. Como diria Machado, as contradições são desse mundo. E então não posso deixar de lembrar de Umberto Eco e de seu <i>Apocalípticos e integrados</i>. Não de trata de uma coisa ou outra, mas de um e. E não à toa você cita o italiano no seu livro. Pois é, sou apocalíptico e integrado. Talvez se Llosa lesse <i>Domingou a pandemia</i>, certamente faria críticas menos agudas aos escritos em redes sociais. Você demonstra uma articulação excelente de vários discursos, desde as canções, seu objeto de pesquisa, passando pela poesia, literatura, filosofia, artes plásticas, crítica. E de forma tão extraordinária que me lembrou seu projeto ainda inédito dos mashups. Já lhe disse que você deveria retomá-los e insisto. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;">Léo, a pandemia irá acabar definitivamente, assim como o presidento está com suas horas contadas. Mas seu livro perdurará, não só como uma escrita de um eu que atravessou o confinamento social, mas igualmente como registro de uma época, uma crônica social que abarca todas as mazelas de um período a ser lembrado, com várias referências sociopolíticas importantes demais para serem esquecidas. Obrigado pela rede de apoio, antes, durante e para depois da pandemia.</span></p>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-26283077479350503312022-01-31T13:43:00.005-03:002022-01-31T13:43:53.390-03:00(Des)canonizar<p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: arial;">Há alguns pouco anos, conversava com um amigo sobre minha pesquisa (acho que estava no final do doutorado, salvo engano) e mencionei o cânone. Como ele não é da área de literatura e é católico praticante, recordo-me perfeitamente da sua reação em função justamente do caráter inusitado: espantou-se com o emprego da palavra, pois, além de desconhecer que é um termo usual nos estudos literários, atribuía à palavra o atributo sacro. Pois bem, a literatura é feita por homens e para homens, não por divindade alguma. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: arial;">Relembro esse episódio anedótico porque já faz algum tempo que tenho me interessado em pesquisar e problematizar o cânone literário. Em 2021 publiquei dois ensaios sobre os romances</span><span style="color: #2b00fe; font-family: arial;"> <i>Exaltação!</i></span><span style="color: #990000; font-family: arial;">, de Albertina Bertha, e </span><span style="color: #2b00fe; font-family: arial;"><i>O Coronel Sangrado</i></span><span style="font-family: arial;"><span style="color: #990000;">, de Inglês de Sousa. Ambos são boas obras praticamente de todo olvidadas pela academia. Voltando mais um pouco no tempo, em 2013 iniciei o doutorado com a intenção de pesquisar blogs de diletantes amadores de modo a pesquisar os processos de autoficcionalização de pessoas comuns, ainda distantes do circuito literário. Ironicamente, abandonei o projeto inicial e defendi a tese, publicada também em 2021, sobre Machado de Assis, talvez nosso nome mais canônico, mas com a intenção de, dentre outras questões, evidenciar a importância dos quatro primeiros romances do bruxo considerados "menores" se comparados à excelência da produção romanesca a partir de </span><i><span style="color: #2b00fe;">Memórias póstumas de Brás Cubas</span></i><span style="color: #990000;">. O cânone, enfim, há tempos tem sido motivo de minha inquietação como pesquisador.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span style="color: #990000;">Naturalmente, a partir dos estudos culturais, muito tem se discutido sobre o tema de forma bastante interessante e instigante. Obras de autores periféricos, negros, homossexuais, de autoria feminina mais e mais vêm à luz em estudos interessantíssimos e que se inquietam em consagrar ao cânone títulos comumente de homens brancos, afinal, o cânone é formado por homens e para homens. Além disso, talvez seja válida a afirmativa de que as histórias das literaturas nacionais sejam também grandes formadoras daquilo que se convencionou denominar como obras merecedoras de serem lidas, em um processo de retroalimentação: lemos porque está nos manuais de historiografia literária e se lá estão, temos que ler. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: arial;">Falando em historiografia, é comum a assertiva de que é difícil historiar o presente, muito embora isso seja cada vez mais relativizado. Se por um lado pensa-se que é necessários um distanciamento temporal para se olhar com atenção para o presente, por outro são muitos os escritores contemporâneos de certa forma canônicos, haja vista o número crescente de autores ainda vivos e produzindo estudados e pesquisados em teses, dissertações, ensaios. E a despeito de qualquer coisa, há cada vez mais publicações de autores e autoras de qualidade no século XXI. Por que apenas alguns recebem atenção crítica e alvíssaras de pesquisadores? Muitas são as hipóteses para essa seleção sem entrar no mérito da qualidade estética e literária dos mesmos. Tiragens por grandes editoras é apenas um dos vários exemplos que poderiam ser elencados aqui. E a facilidade de publicação por editoras de menor porte, normalmente com edições por demanda, pode servir como uma forma de deslegitimização das publicações de jovens autores ainda distantes de leitura atenta da academia.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span style="color: #990000;">Para quem tem interesse pelo tema, recomendo a leitura de </span><i><span style="color: #2b00fe;">Disciplina, Cânone: continuidade e rupturas</span></i><span style="color: #990000;">, livro organizado por Jovita Norona, Maria Clara C. de Oliveira, Maria Luiza S. Pereira e Rogério Ferreira, resultado da sexta edição do simpósio internacional que o Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários, da UFJF, realizou em 2012. Para mim, certamente, foi de grande valia a leitura e já tenho mais alinhavada a construção argumentativa de alguns textos que irei escrever em breve. Além de uma entrevista com Marcelino Freire e Sérgio Vaz, possui cinco partes, a saber: os sistemas literários nacionais, o cânone literário e a crítica hoje; gênero e reconfigurações do cânone: escritas do eu; literaturas: (in)disciplinas; o sistema literário e a tradução; crítica literária, leitura e cultura. São vários os pesquisadores que assinam os capítulos e, como é comum em coletâneas como essa, é natural que determinado assunto interesse mais ou menos ao leitor, mas de todos os textos tira-se proveito.</span></span></p>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-84205545098948588072022-01-28T18:59:00.001-03:002022-01-28T18:59:11.341-03:00Como se tudo estivesse normal...<div style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: arial;">Estamos há dois anos em pandemia, com o devido sucesso do presidente genocida, e agora, apesar de muitos já vacinados, vivemos nova onda graças às variantes do vírus. Minhas filhas estão de férias das aulas remotas e como todas as pessoas responsáveis, pouco saem de casa. Aqui somos todos sobreviventes, teimamos em continuar a viver e não nos deixaremos vencer pelo tirano fascista. Ontem minha caçula, Maria Cecília, foi finalmente vacinada. Ela, de todas as três filhas, é a que mais tem sofrido com o distanciamento. Aulas remotas, "prisão" domiciliar, furta-se de parques, praias, contato com amiguinhos e amiguinhas. Nenhum responsável permite sua visita, assim como Elisa e eu também não recebemos seus amiguinhos. Dos 7 aos 9 tem vivido acompanhada de televisão e youtoubers. Uma pena. Ao menos está viva, não virou estatística, como as centenas de milhares de mortos do projeto político em curso no Brasil.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: arial;">Hoje, enfim, como se a vida fosse nesse início de 2022 normal, fomos Maria Eugênia, Maria Antônia, Maria Cecília e eu ao cinema. No bolso, o passaporte: carteiras de identidade e respectivos comprovantes de vacinação. A vestimenta a de sempre: máscara. Quando perguntei se Maria Cecília queria assistir a </span><span style="color: #2b00fe; font-family: arial;">Sing 2</span><span style="color: #990000; font-family: arial;">, seu sorriso de felicidade foi capaz de dizer tudo aquilo que o verbo não dá conta de exprimir. Como criança me deixei acompanhar por minhas filhas, maior dádiva que um homem pode ter. Elas são maravilhosas, cada uma a seu jeito. Único. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: arial;">Confesso que não tinha muita expectativa quanto ao filme, apesar de adorar animações. Até a metade do filme, ainda não sabia se o longa dirigido por Garth Jennings me agradava ou não, apesar de me arrancar gostosas risadas. Mas o maior termômetro quando o assunto é uma obra destinada ao público infantil são as crianças, e elas se divertiam a valer. Eu, casmurro, só poderia me render ao fato do filme ser, portanto, bom. Do meio em diante, porém, além das gargalhadas, me peguei chorando emocionado com a animação. Pode ser porque o filme é de fato bom, pode ser porque estava finalmente no cinema com minhas Marias, pode ser porque estamos vivos e com saúde. O fato é que deixei de ser adulto por quase duas horas e virei criança, pois toda vez que o adulto balança a criança me dá a mão. Maria Eugênia adorou, Maria Antônia chorava copiosamente e Maria Cecília, encantada. Eu, o homem mais feliz do mundo. Agora, estão as três revendo o primeiro filme da série, ao qual não assisti. </span><span style="color: #990000; font-family: arial;">Para finalizar uma tarde encantadora, uma pizza.</span></div>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-33613579601006519422022-01-15T14:00:00.003-03:002022-01-15T14:00:45.862-03:00A propósito de poesia<p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: arial;">No início de minha trajetória acadêmica, ainda graduando no curso de Letras da UFF, o professor Paulo Bezerra certa vez disse que é possível escrever um livro inteiro a respeito de um único poema. Noamtei, desde então, que a riqueza e a complexidade presentes na poesia de fato suscitam discussões várias capazes de preencher toda uma argumentação crítica em livro.</span><span style="color: #990000; font-family: arial;"> Apesar de leitor de poesia e de ter publicado três livros de poemas (e ter mais dois prontos, ainda inéditos), jamais me dediquei a pesquisar poetas e suas respectivas poesias. Recordo-me que, na graduação, em curso oferecido por Célia Pedrosa, escrevi uma monografia sobre Manuel Bandeira. E só, se a memória não me trai. Desde sempre me concentrei na prosa, desde a graduação e em todo o meu percurso de pós-graduação. Nem mesmo os apelos de Elisa de Castro a que eu me dispusesse a trabalhar criticamente os versos surtiram efeito.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: arial;">Talvez a razão para essa negação se deva em função de minha própria produção de poesia. Acredito que a poesia, ao menos para mim, é objeto a ser lido, escrito e internalizado, para dessa forma se externar como visão de mundo e de vivência. Teorizar acerca dela é demasiado difícil justamente por causa da sua infinitude. Ao contrário da prosa, ponto final não há na poesia.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: arial;">É muito comum hoje afirmações tidas como certeiras sobre o fato de que ninguém lê poesia (se em comparação com os leitores da prosa), que publicar poemas é cada vez mais difícil etc. Adorno chegou mesmo a se questionar se ainda é possível escrever poesia depois de Auschwitz, como se após tamanha barbárie não restasse mais espaço para ela. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: arial;">A respeito das problematizações acerca da poesia, e aqui me refiro à contemporânea, parece unanimidade, entre críticos, afirmar que após o fim da ditadura militar vivemos um momento pós-utópico, termo cunhado por Haroldo de Campos e retomado por Flávio Carneiro. De modo bastante sintético, a poesia e a literatura a partir de então não teriam mais um denominador comum, um projeto estético definido, como até então havia. São várias as estéticas que se harmonizam e convivem pacificamente, dificultando a designação de um mesmo e comum ismo que aglutinasse todas sob o mesmo diapasão. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span style="color: #990000;">Marcos Siscar, em </span><i><span style="color: #2b00fe;">Poesia e crise</span></i><span style="color: #990000;">, propõe-se a refletir sobre essas "verdades" professadas à exaustão sobre o fazer poético. De forma bastante instigante, ele escreve sobre a crise da poesia em vários artigos anteriormente publicados autonomamente e enfim reunidos em livro. A leitura de Siscar descortina e desfaz certos chavões considerados inabaláveis pela crítica especializada e oferece uma rica teorização sobre o que seria a crise da poesia. Segundo o autor, a partir de Baudelaire a literatura "já não expressa seu amor pela 'verdade' (...) mas pela 'mentira', pela 'maquiagem'". Seria essa uma razão contrária à poesia? Ou não seria justamente algo a seu favor? Pensar a crise da poesia é um exercício retórico improfícuo, pois "'a poesia' não é exatamente aquilo que está em crise, mas é o nome da própria crise, daquilo que se impõe e explicita a experiência do impasse e dá forma ao escrito, a qualquer forma de escrito, inclusive o da crítica literária". A crise da poesia, surgida desde Mallarmé segundo Siscar, é fundamental para tudo o que se escreve portanto.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span style="color: #990000;">Não é factual, pois, que a poesia atual seja de menor importância estética, muito ao contrário. Qual a finalidade da poesia? Há finalidade? Que os críticos (em crise) se apressem em responder.</span></span></p>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-80367937140208682882022-01-04T11:15:00.000-03:002022-01-04T11:15:05.724-03:00Crítica pós-colonial: panorama de leituras contemporâneas<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">A questão da nacionalidade permeia os estudos literários brasileiros. Todo manual de história da literatura brasileira inicia com a Carta de Pero Vaz de Caminha e prossegue com os sermões jesuítas, o Barroco e assim por diante, mesmo que ainda não fôssemos um Estado-nação independente. Apesar de o Arcadismo apresentar as epopeias de Santa Rita Durão e Basílio da Gama, que tematizam o indígena, ainda é pouco para se falar em literatura nacional. Lembremos que Antonio Candido, na </span><i><span style="color: #2b00fe;">Formação da literatura brasileira</span></i><span style="color: #990000;">, não considera o arcadismo como literatura genuinamente brasileira. </span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">Com os românticos indianistas, escrevendo pós independência, procura-se uma literatura desvencilhada da de Portugal e os índios figuram como os genuínos brasileiros em sua gênese. É demasiada conhecida a controvérsia dessa designação, portanto não me ocuparei em problematizá-la. </span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">Posteriormente, foram os modernistas de primeira hora, capitaneados por Mário de Andrade, que se autoproclamaram os fundadores de uma consciência nacional, criticando os românticos pelo academicismo que imperava em nossas letras. Nem mesmo "Instinto de Nacionalidade", antológico ensaio de Machado de Assis, defendendo o sentimento íntimo como premissa para uma literatura nacional, foi capaz de apaziguar a iconoclastia de Mário e Oswald de Andrade. A língua portuguesa necessitava dar lugar ao idioma brasileiro, conjugando as três raças responsáveis por nossa miscigenação, inclusive idiomaticamente, como necessárias para uma literatura de fato brasileira. </span><span style="color: #2b00fe;"><i>Macunaíma</i></span><span style="color: #990000;">, nesse sentido, é exemplar da tentativa marioandradina dessa constituição nacional. Igualmente são várias as problematizações a serem feitas nesse sentido e aqui não pretendo encetar essa discussão.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">Seja no romantismo, seja no modernismo, por mais válidas que possam ter sido a inclusão de índios, no primeiro caso, e de negros, índios e brancos, no segundo, a pena era de homens brancos, europeizados (a descendência indígena de Gonçalves Dias é de pouca relevância no sentido de se pensar seus poemas como integrantes de uma poesia indígena; Oswald de Andrade, como é sabido, descobriu o Brasil em visita ao velho continente e Mário "copiou" seu romance-rapsódia de um germânico).</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">Que Brasil somos afinal? Para se pensar essa questão com mais profundidade, é necessário, finalmente, ler/ouvir a história de negros e índios sob a luz dos estudos pós-coloniais. É cada vez mais crescente textos literários escritos por índios e negros, assim como autores periféricos que conferem maior legitimidade ao que se convencionou chamar de lugar de fala. </span><span style="color: #2b00fe;"><i>Crítica pós-colonial: panorama de leituras contemporâneas</i></span><span style="color: #990000;">, organizado por Júlia Almeida, Adelia Miglievich-Ribeiro e Heloisa Toller Gomes, reúne excelentes ensaios sobre essa questão, escritos por pesquisadores de campos epistemológicos diversos, como sociologia, antropologia, história, literatura, ciências econômicas, ciências sociais.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">O livro é dividido em quatro partes, de maneira a tornar o tema o mais diversificado possível. Assim, ao leitor pouco familiarizado com os estudos pós-coloniais, há uma rica e plural informação, de maneira a torná-lo mais íntimo sobre o assunto, muito em voga na contemporaneidade. O Brasil que de fato somos distancia-se daquela visão eurocêntrica e problematiza a forma como fomos catequisados, para utilizar expressão de Oswald, e oferece possibilidades críticas contra a colonização. </span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">Pensar o índio pré-colonização, como pretendeu Alencar em </span><i><span style="color: #2b00fe;">Ubirajara</span></i><span style="color: #990000;">, por exemplo, talvez pouca serventia tenha, pois no momento em que os portugueses aqui aportaram houve uma inter-relação e aculturação impossíveis de serem negadas. Obviamente isso ocorre também com os negros. Por mais importantes que tenham sido, ainda no século XIX, os escritores antiescravagistas, como Castro Alves, para citar apenas um, ninguém melhor do que um negro para pensar e refletir sobre a negritude. Mas não basta ser negro. É preciso escrever sob essa ótica. Machado de Assis, por exemplo, dificilmente poderia ser incluído no rol de uma literatura escrita por negros, pois ele sofreu, mesmo em sua época, processo de embranquecimento além de pouco escrever sob essa condição. Naturalmente, o mesmo ocorre com toda a América. Pensar literatura, hoje, sem levar em conta o intercâmbio entre colonizadores e colonizados é primordial para se ter uma compreensão mais abrangente de como se fazem ouvir vozes sempre silenciadas. E, inclusive, repensar a estética cuja orientação é europeia.</span></span></div>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-75355260286924211112022-01-02T17:24:00.007-03:002022-01-02T17:28:10.401-03:00História da Música Brasileira em 100 Fotografias<p style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Com curadoria de Hugo Sukman e Rodrigo Alzuguir, além de um time de redatores e fotógrafos que registraram momentos ímpares da música brasileira, </span><span style="color: #2b00fe; font-family: courier;"><i>História da música brasileira em 100 fotografias</i></span><span style="color: #cc0000; font-family: courier;"> é uma leitura rica, importante, instrutiva e agradável do mapeamento da produção musical nacional. Os textos curtos, ao lado de fotos marcantes (infelizmente nem todas possuem o devido crédito), não pecam pela brevidade. Ao contrário, em uma página a concisão textual não peca pela desinformação. Um outro título bastante aceitável seria <i>Dicionário ilustrado da música brasileira</i>. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Dividido em 5 partes - 1865-1930 (das matrizes ao samba, Segundo Reinado e Primeira República); 1930-1945 (entre modernização e a tradição, o erudito e o popular); 1945-1964 (expansão dos gêneros e dos gênios musicais); 1964-1985 (seguindo a canção: a consolidação da MPB); 1985-2021 (o país de todos os ritmos) - há a tentativa de ser o mais abrangente possível, buscando não negligenciar nenhum momento importante da nossa historiografia musical. Se por um lado todos os momentos estão presentes - do samba ao erudito, do pagode ao instrumental, da Bossa Nova ao funk, do sertanejo ao rock etc. -, por outro é impossível registrar todos os nomes importantes da música brasileira, um problema de qualquer livro dessa natureza. Certamente haverá algum leitor-fã a reclamar da ausência de um possível ídolo. Vale registrar, para ficar no âmbito da canção, que nem mesmo a excelente Paratodos, de Chico Buarque, é capaz de listar todos os nomes caros ao autor. Apesar disso, a leitura é rica e bem documentada, seja textualmente, seja fotograficamente. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Se pode parecer arbitrária a decisão de iniciar pelo ano de 1865, é bastante atual, pois há registro até 2021, sem deixar de mencionar, portanto, os anos da pandemia de Covid-19 e como a música reagiu a esse infeliz momento da história.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Aos amantes da música e da leitura, fica a recomendação desse importante e atual livro, rico documento historiográfico e iconográfico da música brasileira.</span></p>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-70509581641666464512021-12-28T14:40:00.006-03:002021-12-28T14:40:56.177-03:00Poucas e felizes testemunhas<p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;">27 de dezembro de 2021. 21h. Copacabana. Beco das Garrafas. No super povoado bairro de uma grande cidade, havia um grupo de felizes testemunhas de um show excelente e intimista, para poucos. Eduardo Braga reuniu um time de músicos de primeira linha para comemorar seu aniversário em grande estilo. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;">Antes do show iniciar, dei dois dos meus mais recentes livros de presente a Eduardo, mas o grande presente quem recebeu fomos eu e os poucos felizardos que testemunharam a volta aos poucos do talentosíssimo Eduardo. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;">Grande fã, entusiasta e conhecedor do Clube da Esquina, abriu os trabalhos com uma sessão de seu projeto Jazzin'Minas, com arranjos jazzísticos excepcionais para clássicos da turma de Bituca e companhia. Recordo que assisti a esse show anos atrás e saí maravilhado com a capacidade musical de releituras excelentes do já excelente Clube. O grande diferencial ao apresentar as músicas é justamente oferecer algo para além da excelência dos músicos mineiros, e isso Eduardo faz, fez e continuará fazendo com maestria. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;">Eduardo não apenas recuperou seu projeto sobre o Clube da Esquina, mas festejou também tocando músicas de um novo projeto - infelizmente interrompido pela pandemia mas que em fevereiro retomará - com clássicos de grandes artistas dos anos 60, desde Beatles, passando por Dylan e outros. A MPB também se fez presente na releitura de ontem. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;">Olhando para o palco, fiquei comovido não apenas pelo som, mas também pelo olhar de felicidade do aniversariante, ocupando um espaço que é seu por direito - o palco. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;">Sinto-me grato por ter sido uma das poucas testemunhas do show de um artista singular porque plural. Aguardemos a chegada de fevereiro para mais música de qualidade. </span></p>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-62700216194943724752021-12-24T13:55:00.002-03:002021-12-24T13:55:25.887-03:00Representações de etnicidade: perspectivas interamericanas de literatura e cultura, de Eurídice Figueiredo<p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier;">Fui aluno de Eurídice Figueiredo no primeiro período da Faculdade de Letras da UFF em 1994. Então a disciplina era Francês Instrumental e não mais mantive contato com ela até o lançamento do livro </span><span style="color: #2b00fe; font-family: courier;"><i>O futuro pelo retrovisor</i></span><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">, organizado por Stefania Chiarelli, Gionanna Dealtry e Paloma Vidal em 2013. Na ocasião, quando vi Eurídice entrando na livraria, me aproximei e iniciamos um bom papo. Eu estava no primeiro ano do doutorado e meu projeto era sobre autoficção. Ao comentar isso com ela, me disse que em poucos dias lançaria seu livro </span><i style="color: #2b00fe;">Mulheres ao espelho: autobiografia, ficção, autoficção</i><span style="color: #990000;">. Compareci ao lançamento e desde então sou leitor assíduo de Eurídice Figueiredo. Pouco depois estávamos em um congresso na UFBA, quando conheci os queridos amigos Luciano, Rodrigo, Anna e Laura. Formou-se então o melhor grupo de trabalho possível, acrescido posteriormente pela Inês. Ainda hoje nos reunimos regularmente. Costumo dizer que as amizades que construí ao longo do doutorado foram a minha maior e melhor herança que os anos de doutoramento me trouxeram.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">A tese sofreu um desvio e não escrevi dobre autoficção, mas sim sobre Machado de Assis, cujo resultado é meu mais recente livro </span><i><span style="color: #2b00fe;">Bruxaria do início ao fim: o projeto filosófico-(meta)ficcional de Machado de Assis</span></i><span style="color: #990000;">, recém-editado pele EdUERJ. É curiosa a forma como se deu a mudança do projeto inicial da literatura contemporânea para a obra do bruxo. Recordo-me que Ana Cláudia Viegas, minha orientadora do mestrado, cujo resultado foi meu segundo livro, </span><i><span style="color: #2b00fe;">Eu: itinerário para a autoficção</span></i><span style="color: #990000;"> (7 Letras), certa vez afirmou que eu não me encaixava na literatura contemporânea, pois minha predileção sempre foi pelos clássicos. E ainda é. Eu também tinha certa implicância com os Estudos Culturais, o que começou a desaparecer após a leitura dos livros de Eurídice, muito provavelmente porque passei a melhor compreender tanto a literatura contemporânea quanto os Estudos Culturais.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">Acabei de ler </span><span style="color: #2b00fe;"><i>Representações da etnicidade</i></span><span style="color: #990000;"> e estou maravilhado. A maneira como são construídas as análises culturais e literárias das questões pós-coloniais e das obras é extremamente rica e bem embasada, uma verdadeira aula de literatura. Aliás, essa é a tônica das publicações da Eurídice, pesquisadora arguta cuja perspicácia e erudição são exemplares. Ainda tenho maior apreço pela literatura clássica do que pela contemporânea, mas cada vez mais, influenciado pelas leituras da ex-professora e atual amiga, sinto-me instigado a ler com mais assiduidade a produção atual. Não é meu propósito aqui escrever uma resenha crítica sobre o livro, mas recomendo fortemente sua leitura. Questões como Estudos Culturais, Etnicidade, Memória dentre várias outras são muito bem trabalhadas. No meu caso, é como se houvesse um antes e um depois das leituras de seus livros.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">Também registro que tive a honra e o prazer de revisar sua próxima publicação, </span><i><span style="color: #2b00fe;">A nebulosa do (auto)biográfico: vidas vividas, vidas escritas</span></i><span style="color: #990000;">, a sair em breve pela Zouk.</span></span></p>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-70072284738409234922021-11-24T12:22:00.001-03:002021-11-24T12:22:18.298-03:00Conceitos de literatura e cultura, de Eurídice Figueiredo<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #cc0000;">Recordo que na graduação em Letras na UFF meu amigo Júlio França certa vez disse que conhecimento não se nega a ninguém, há a necessidade de compartilhá-lo. Achei bastante madura a posição de Júlio, mas não lembro a propósito de que surgiu esse assunto à época. O fato é que ambos iniciávamos nossas vidas no caminho da literatura e lá se vão mais de 25 anos. É curiosa a forma como a memória surge. Eurídice Figueiredo, de quem fui aluno na UFF, mas lamento muito não ter sido em literatura, disse algo semelhante por mensagem quando da publicação da segunda edição de </span><i><span style="color: #2b00fe;"><b>Conceitos de literatura e cultura</b></span></i><span style="color: #cc0000;">, organizado por ela, que finalmente saiu em versão digital após anos do livro físico esgotado. Segundo a pesquisadora, todo livro deveria ter uma versão digital com acesso gratuito. E graças a isso o li com prazer. (Abro um parêntese para dizer que o mesmo se deu com </span><b><i><span style="color: #2b00fe;">Representações de etnicidade: perspectivas interamericanas de literatura e cultura</span></i></b><span style="color: #cc0000;">, lançado originalmente pela 7 Letras em 2010, e que será lido em breve).</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #cc0000;">É interessante observar que há quem procure dissociar literatura e cultura, isto é, se considerarmos a obra literária como uma forma de arte, ela não é necessariamente uma obra cultural, apesar de inserida na cultura. A teoria estética de Adorno caminha nessa direção, de situar a arte como uma forma de conhecimento único e intransponível, sem quaisquer vínculos com a cultura na qual ela esteja inserida. Eu mesmo, em recente livro publicado, defendi essa premissa, embora reconheça não ser a única, apenas procurei empregá-la na análise de Machado de Assis. De fato, é bastante difícil compreender uma obra literária completamente desvinculada, por exemplo, de referenciais historiográficos, culturais e outros. Arnold Hauser, em seu excelente </span><b><i><span style="color: #2b00fe;">História social da arte e da literatura</span></i></b><span style="color: #cc0000;">, demonstra erudição e fôlego impressionantes para a composição social a que se propôs, em diálogo profícuo entre arte e suas dimensões sociais que a embasam. Se é possível fazer um senão ao livro de Hauser deve-se ao eurocentrismo, pois todo o universo abordado refere-se à arte europeia.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #cc0000;">Por mais que a teoria estética de Adorno seja fascinante, havemos de concordar que é bastante delicado trabalhar a literatura do novo mundo sem considerar a cultura, haja vista vários aspectos serem possíveis de ser teorizados devido à colonização e à miscigenação dela decorrentes. Assim, é muito instigante a leitura do livro organizado por Eurídice Figueiredo, que assina também três artigos.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #cc0000;">O livro de Eurídice é exemplar nesse sentido. Os artigos, assinados por nomes importantes dos estudos literários, tratam de questões inerentes às literaturas do novo mundo e suas especificidades ausentes naquelas estudadas por Hauser, por exemplo. A produção literária hispano-americana, a francófona e anglófona, e a brasileira são trabalhadas sob um viés que nos permite compreendê-las a contento sob a luz das perspectivas culturais que ao mesmo tempo as singularizam e as pluralizam. Escrever uma resenha apropriada requer um texto mais longo capaz de desenvolver as ideias centrais dos vinte capítulos distribuídos em quase 500 páginas, que vão desde americanidade e americanização, antropofagia, crioulização e crioulidade, identidade nacional e identidade cultural, indigenismo, pós-colonialismo e pós-colonialidade etc. etc. Todos temas possíveis em função do amálgama americano. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #cc0000;">Se fico a dever a resenha, deixo enfaticamente a sugestão de leitura. Quem quiser fazer o download gratuito basta clicar em http://www.eduff.uff.br/index.php/catalogo/livros/87-conceitos-de-literatura-e-cultura </span></span></p>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-78360124707431436272021-10-22T13:17:00.004-03:002021-10-22T13:17:52.846-03:00Em Terceira Pessoa e outros poemas, de Giovani Miguez<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">De certa forma, é lugar comum dizer que vivemos em um mundo individualista e, contraditoriamente, voyeurista. Cada vez mais nos interessamos pela vida alheia, seja em reality shows, autobiografias e autoficções, e sobretudo em redes sociais, do mesmo modo que exibimos nossa intimidade de forma massiva. Em um primeiro momento, é factível afirmar que esse interesse pela alteridade é apenas superficial, na medida que pouco se conhece, porque pouco se expõe, o eu mais recôndito. Foi justamente em uma rede social, o Instagram, que conheci Giovani Miguez, em live com meu querido amigo e poeta Cesar Garcia Lima. Meu interesse em poesia é público e então entrei em contato com Giovani, lhe enviei dois livros meus e recebi </span><i><span style="color: #2b00fe;">Em terceira pessoa</span></i><span style="color: #990000;">. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">Na orelha, descobrimos que o livro foi escrito durante a pandemia ainda em 2020. Foi muito comum ouvirmos que durante o isolamento social a arte era a saída, seja como entretenimento, seja como companhia, seja ainda como forma de reflexão crítica. E em um momento que se isolar era (e ainda é, infelizmente) vital, não deixa de ser bem-vinda essa publicação, a começar pelo próprio título: sem contato social, convivendo conosco e apenas conosco, não é a primeira pessoa que surge no título, mas o ele, o outro, o externo, porque "É preciso / acertar no pronome / um conjugar preciso! / para que não / haja fome, / guerra, / autocracia", escreve o poeta no poema homônimo e que abre o livro. Somente assim, prossegue, pode haver um nós, "o pronome certo!".</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">Talvez seja em busca desse pronome certo que os primeiros poemas foram escritos, no sentido de que são versos de denúncia, como se o confinamento tornasse mais perceptível a necessidade do olhar para a alteridade. Claro que esse tipo de poesia corre o "risco" de se tornar panfletária, mas o poeta dá um passo além. E se panfletária fosse, compreendido o momento da escritura, com inúmeras pessoas morrendo sob o desgoverno genocida do Brasil, não seria nenhum despropósito. O poema "Cura", no entanto, rebate quaisquer possíveis críticas nessa direção, pois é de um lirismo certeiro.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">Particularmente, tenho me interessado cada vez mais em poemas curtos. Meus dois mais recentes livros de poesia são prova disso e possuo dois outros prontos, ainda inéditos, com poucos versos. Acredito ser mais laborioso, interessante e poético dizer muito com poucas palavras. E isso observa-se também no livro de Giovani Miguez. Nem todos os poemas são curtos, mas vale registrar que muitos o são, o que, para mim, interessa bastante. "Verso Vazio" é exemplar nesse sentido.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">A própria composição do livro é interessante ao observarmos os poemas "Bovid" e "Grato" justapostos. A revolta que o primeiro suscita é imediatamente após amenizada pela gratidão de não ser obediente às "ordens do fascista" e, sobretudo, pela valorização das pequenas coisas. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">É digna de nota a metapoesia presente </span><span style="color: #2b00fe; font-style: italic;">Em terceira pessoa</span><i style="color: #990000;">, </i><span style="color: #990000;">algo que muito me interessa e que eu procuro praticar na minha própria poesia. "Imortalidade" é excelente exemplo, inclusive sugerindo uma boa compreensão teórica sobre o ofício poético e literário. Quincas Borba já ensinara a Rubião que se seu exemplar de </span><i><span style="color: #2b00fe;">Dom Quixote</span></i><span style="color: #990000;"> fosse destruído, a obra permaneceria eterna. Fica o convite para a leitura desse poema e de todo o livro.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;"><span style="color: #990000;">Fechou-se o círculo. O confinamento fez com que Giovani Miguez escrevesse </span><i><span style="color: #2b00fe;">Em terceira pessoa</span></i><span style="color: #990000;">. Em isolamento assisti à live dele com Cesar Garcia Lima. Em distanciamento me aproximei da primeira pessoa do poeta.</span></span></p>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-24518198689776081102021-09-03T11:25:00.002-03:002021-09-03T11:25:11.360-03:00Comentário do poeta Gabriel do Monte Leão sobre Do amor e das suas (des)formas<p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier; font-size: large;"><span style="background-color: white; white-space: pre-wrap;">Achei lúdico, leve, de uma poesia que chega a se diluir em sentimentos. Claro, conciso. Porém, por haver um forte teor afetivo no seu livro, por mais que seja diáfano, requer várias leituras. Parece uma única poesia que tenta sintetizar o que não pode ser sintetizado: o amor... Essa foi minha primeira leitura. Tem algo simbolista nele. P</span><span style="background-color: white; white-space: pre-wrap;">elo menos, me parece. Gostei bastante.</span></span></p><div dir="auto" style="background-color: white; white-space: pre-wrap;"><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: transparent; font-weight: bold; text-align: inherit;"><span style="color: #990000; font-family: courier; font-size: large;">Parabéns</span></span></div><span class="l9j0dhe7" style="position: relative;"><span style="color: #990000; font-family: courier; font-size: large;"><div class="n00je7tq arfg74bv qs9ysxi8 k77z8yql i09qtzwb n7fi1qx3 b5wmifdl hzruof5a pmk7jnqg j9ispegn kr520xx4 c5ndavph art1omkt ot9fgl3s" data-visualcompletion="ignore" style="border-radius: 4px; inset: -2px -4px; opacity: 0; pointer-events: none; position: absolute; text-align: justify; transition-duration: var(--fds-duration-extra-extra-short-out); transition-property: opacity; transition-timing-function: var(--fds-animation-fade-out);"></div></span></span><div style="text-align: justify;">.</div></div>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-48788060397390180072021-08-31T20:14:00.001-03:002021-08-31T20:14:06.672-03:00<p style="text-align: center;"><span style="color: #990000; font-family: courier; font-size: x-large;">SAUDADE</span></p><p style="text-align: center;"><span style="color: #990000; font-family: courier; font-size: x-large;">SÓ HÁ DE</span></p><p style="text-align: center;"><span style="color: #990000; font-family: courier; font-size: x-large;">SE DÁ SEM</span></p>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-7618465810023738002021-08-31T17:16:00.004-03:002021-08-31T17:16:33.868-03:00<p style="text-align: center;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: x-large;">SOFRO UM</span></p><p style="text-align: center;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: x-large;">SOPRO DE </span></p><p style="text-align: center;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: x-large;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span>LA</span></p><p style="text-align: center;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: x-large;">MENTO</span></p>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-72827586314590316592021-06-08T09:42:00.000-03:002021-06-08T09:42:05.118-03:00Comentário do poeta Wanderlino Teixeira Leite Netto sobre Do Amor e da suas (des)formas<p style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; white-space: pre-wrap;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: large;">Bruno, acabei de ler seu livro. É uma poesia que mais inquieta do que sublima, mas inquietar é também uma das funções da poesia. Eu achei muito interessante essa perfeita sintonia dos desenhos de sua mãe, aliás, belíssimos desenhos, com os poemas, ainda mais, como você explica na introdução, que eles não foram feitos para as ilustrações, ou melhor, as ilustrações não foram feitas para os poemas. Eles se encaixaram sem uma intenção de que isso acontecesse. Ficou muito bom, o livro está bonito, a capa muito boa.</span><span style="color: #050505; font-family: Segoe UI Historic, Segoe UI, Helvetica, Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 15px;"> </span></span></span></p>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-14704149461636294692021-06-07T17:55:00.003-03:002021-06-07T17:55:32.372-03:00Comentário do poeta Igor Fagundes sobre Do Amor e das suas (des)formas<p> <span style="color: var(--primary-text); font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; white-space: pre-wrap;">No fim de tarde, faço uma pausa no trabalho e recebo a seguinte mensagem do querido </span><span style="color: var(--primary-text); font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; white-space: pre-wrap;"><a class="oajrlxb2 g5ia77u1 qu0x051f esr5mh6w e9989ue4 r7d6kgcz rq0escxv nhd2j8a9 nc684nl6 p7hjln8o kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x jb3vyjys rz4wbd8a qt6c0cv9 a8nywdso i1ao9s8h esuyzwwr f1sip0of lzcic4wl q66pz984 gpro0wi8 b1v8xokw" href="https://www.facebook.com/igor.fagundes.777?__cft__[0]=AZVM_8AW8IoyVefA8hENPkX6svwwSM6TxPfCCBkC6pAGzsFQpdTuntdTqepL-7sZa7gRxwb4RfqhETa2VGuN18-SaoF8d8epiX44Nue2vvBmGg&__tn__=-]K-R" role="link" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; border-color: initial; border-style: initial; border-width: 0px; box-sizing: border-box; cursor: pointer; display: inline; font-family: inherit; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: inherit; text-decoration-line: none; touch-action: manipulation;" tabindex="0"><span class="nc684nl6" style="display: inline; font-family: inherit;">Igor Fagundes</span></a></span><span style="color: var(--primary-text); font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; white-space: pre-wrap;">:</span></p><div><div class="" dir="auto"><div class="ecm0bbzt hv4rvrfc e5nlhep0 dati1w0a" data-ad-comet-preview="message" data-ad-preview="message" id="jsc_c_2bc" style="padding: 4px 16px;"><div class="j83agx80 cbu4d94t ew0dbk1b irj2b8pg" style="display: flex; flex-direction: column; margin-bottom: -5px; margin-top: -5px;"><div class="qzhwtbm6 knvmm38d" style="margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;"><span class="d2edcug0 hpfvmrgz qv66sw1b c1et5uql lr9zc1uh a8c37x1j keod5gw0 nxhoafnm aigsh9s9 d3f4x2em fe6kdd0r mau55g9w c8b282yb iv3no6db jq4qci2q a3bd9o3v knj5qynh oo9gr5id hzawbc8m" dir="auto" style="display: block; line-height: 1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;"><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: large;">Bruno, desculpe a demora para dar um retorno sobre o livro. Ando fazendo muitas coisas e queria ler com carinho, atenção, como você e o livro merecem. </span></div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: large;">Em primeiro lugar, agradeço a dedicatória.</span></div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: large;">O livro é de uma delicadeza sem fim. Da arte de sua mãe ao seu verbo comedido, conciso, breve. </span></div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: large;">Tive enorme dificuldade com poemas curtos ou super curtos. Não é o meu forte e admiro quem se arrisca nessa forma e sai bem sucedido. A página fica cheio do branco, do espaço vazio que na verdade é um espaço de ar atravessando a palavra.</span></div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: large;">A sensação é de que a arte visual já nasceu para compor com sua arte verbal. É uma composição de amor, sem deixar de ser poética. E mais: nenhuma das artes é legenda da outra. Elas também sobrevivem sozinhas, o que é importante, para evitar a descrição, que não é seu objetivo, nem o da poesia, penso.</span></div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: large;">Marquei os poemas que mais me atravessaram:</span></div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: large;">"cena III", "cena V", "cena VI", "cena VII", "cena VIII", "cena XVIII", "cena XIX".</span></div><div dir="auto" style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: x-large;">"cena XXI", "cena XXIII", "cena XXVIII", "cena XXIX", "cena XXX". Penso que estes estão muito bem realizados também.</span></div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto"><div style="text-align: justify;"><span style="text-align: inherit;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: large;">Parabéns!</span></span><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: large;"> Quem bom que ganhei um irmão nas Letras</span><span style="color: var(--primary-text); font-family: inherit; font-size: 0.9375rem;">.</span></div></div></div></span></div></div></div></div></div><div style="font-family: inherit;"><div class="stjgntxs ni8dbmo4 l82x9zwi uo3d90p7 h905i5nu monazrh9" data-visualcompletion="ignore-dynamic" style="border-radius: 0px 0px 8px 8px; font-family: inherit; overflow: hidden;"><div style="font-family: inherit;"><div style="font-family: inherit;"><div style="font-family: inherit;"><div class="l9j0dhe7" style="font-family: inherit; position: relative;"><div class="bp9cbjyn m9osqain j83agx80 jq4qci2q bkfpd7mw a3bd9o3v kvgmc6g5 wkznzc2l oygrvhab dhix69tm jktsbyx5 rz4wbd8a osnr6wyh a8nywdso s1tcr66n" style="align-items: center; background-color: white; border-bottom: 1px solid var(--divider); color: var(--secondary-text); display: flex; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 0.9375rem; justify-content: flex-end; line-height: 1.3333; margin: 0px 16px; padding: 10px 0px;"><div class="bp9cbjyn j83agx80 buofh1pr" style="align-items: center; display: flex; flex-grow: 1; font-family: inherit;"><span aria-label="Veja quem reagiu a isso" class="du4w35lb" role="toolbar" style="font-family: inherit; z-index: 0;"><span class="bp9cbjyn j83agx80 b3onmgus" id="jsc_c_2bf" style="align-items: center; display: flex; font-family: inherit; padding-left: 4px;"><span class="np69z8it et4y5ytx j7g94pet b74d5cxt qw6c0r16 kb8x4rkr ed597pkb omcyoz59 goun2846 ccm00jje s44p3ltw mk2mc5f4 qxh1up0x qtyiw8t4 tpcyxxvw k0bpgpbk hm271qws rl04r1d5 l9j0dhe7 ov9facns kavbgo14" style="border-bottom-color: var(--card-background); border-left-color: var(--card-background); border-radius: 11px; border-right-color: var(--card-background); border-style: solid; border-top-color: var(--card-background); border-width: 2px; font-family: inherit; height: 18px; margin-left: -4px; position: relative; width: 18px; z-index: 2;"><span class="t0qjyqq4 jos75b7i j6sty90h kv0toi1t q9uorilb hm271qws ov9facns" style="border-radius: 9px; display: inline-block; font-family: inherit; height: 18px; width: 18px;"><span class="tojvnm2t a6sixzi8 abs2jz4q a8s20v7p t1p8iaqh k5wvi7nf q3lfd5jv pk4s997a bipmatt0 cebpdrjk qowsmv63 owwhemhu dp1hu0rb dhp61c6y iyyx5f41" style="align-items: inherit; align-self: inherit; display: inherit; flex-direction: inherit; flex: inherit; font-family: inherit; height: inherit; max-height: inherit; max-width: inherit; min-height: inherit; min-width: inherit; place-content: inherit; width: inherit;"><div aria-label="Amei: 1 pessoa" class="oajrlxb2 gs1a9yip g5ia77u1 mtkw9kbi tlpljxtp qensuy8j ppp5ayq2 goun2846 ccm00jje s44p3ltw mk2mc5f4 rt8b4zig n8ej3o3l agehan2d sk4xxmp2 rq0escxv nhd2j8a9 pq6dq46d mg4g778l btwxx1t3 pfnyh3mw p7hjln8o kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x tgvbjcpo hpfvmrgz jb3vyjys rz4wbd8a qt6c0cv9 a8nywdso l9j0dhe7 i1ao9s8h esuyzwwr f1sip0of du4w35lb lzcic4wl abiwlrkh p8dawk7l" role="button" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; align-items: stretch; background-color: transparent; border-bottom-color: var(--always-dark-overlay); border-left-color: var(--always-dark-overlay); border-right-color: var(--always-dark-overlay); border-style: solid; border-top-color: var(--always-dark-overlay); border-width: 0px; box-sizing: border-box; cursor: pointer; display: inline-flex; flex-basis: auto; flex-direction: row; flex-shrink: 0; font-family: inherit; list-style: none; margin: 0px; min-height: 0px; min-width: 0px; outline: none; padding: 0px; position: relative; text-align: inherit; touch-action: manipulation; user-select: none; z-index: 0;" tabindex="0"><span style="background-color: transparent; color: inherit; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; text-align: inherit;"><br /></span></div></span></span></span></span></span><span style="font-family: inherit;"><div class="oajrlxb2 g5ia77u1 qu0x051f esr5mh6w e9989ue4 r7d6kgcz rq0escxv nhd2j8a9 a8c37x1j p7hjln8o kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x jb3vyjys rz4wbd8a qt6c0cv9 a8nywdso i1ao9s8h esuyzwwr f1sip0of lzcic4wl l9j0dhe7 abiwlrkh p8dawk7l gmql0nx0 ce9h75a5 ni8dbmo4 stjgntxs" role="button" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: transparent; border-color: initial; border-style: initial; border-width: 0px; box-sizing: border-box; color: inherit; cursor: pointer; font-family: inherit; list-style: none; margin: 0px; max-height: 1.3333em; outline: none; overflow: hidden; padding: 0px; position: relative; text-align: inherit; touch-action: manipulation; user-select: none;" tabindex="0"><span class="gpro0wi8 cwj9ozl2 bzsjyuwj ja2t1vim" style="background-color: var(--card-background); float: left; font-family: inherit; margin-left: -100px;"><span style="font-family: inherit;"><span class="pcp91wgn" style="font-family: inherit; padding-left: 6px;">Igor Fagundes</span></span></span></div></span></div><div class="kb5gq1qc pfnyh3mw c0wkt4kp" style="flex-grow: 0; flex-shrink: 0; font-family: inherit; width: 7px;"></div><div class="bp9cbjyn j83agx80 pfnyh3mw p1ueia1e" style="align-items: center; display: flex; flex-shrink: 0; font-family: inherit; height: 22px;"></div></div></div></div></div></div></div></div>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-61182291022314390972021-05-15T15:43:00.000-03:002021-05-15T15:43:20.790-03:00Comentário da poeta Lena Jesus Ponte sobre Do Amor e das suas (des)formas<p style="text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: courier; font-size: large;">Parabéns pelo livro. Muito bem cuidado. Tema eterno tratado de maneira inovadora. Grande homenagem a sua mãe. Belos desenhos! Destaco alguns poemas que mais me tocaram: IV, VII, XIV, XVIII, XX, XXVI, XXX, epílogo.</span></p>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-31745942511885687622021-04-29T13:45:00.005-03:002021-04-29T13:49:50.385-03:00<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier; font-size: large;">Meu mais recente livro, Do amor e das suas (des)formas, encontra-se à venda no link abaixo e em dias nas livrarias também.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier; font-size: large;">https://7letras.com.br/livro/do-amor-e-das-suas-desformas/?fbclid=IwAR0N4chVdfHR3ZiqAWYPsVW5ZLQELKl_NZLE7neKoXHZzsx5tanCvHKRUjA </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier; font-size: large;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEim2hsSEh2w-IVMPBL8prxBrruNKPe6zLnu35440HIQHZNKtsrBy6y94O6mD9frl4oc9Hl5w817pP2kgpXNIQbSUjhGSVZwMRKuEbPkfvlc_J0ntg8XJspOT48jKqzhysQl7XYAahfqw_Hs/s1280/thumbnail_do-amor-e-suas-desformas_flyer.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="1280" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEim2hsSEh2w-IVMPBL8prxBrruNKPe6zLnu35440HIQHZNKtsrBy6y94O6mD9frl4oc9Hl5w817pP2kgpXNIQbSUjhGSVZwMRKuEbPkfvlc_J0ntg8XJspOT48jKqzhysQl7XYAahfqw_Hs/s320/thumbnail_do-amor-e-suas-desformas_flyer.jpg" /></a></div><br /><span style="font-family: courier; font-size: large;"><br /></span><p></p>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-61900657454999115252021-02-13T17:02:00.003-03:002021-02-13T17:03:51.454-03:00<p style="text-align: center;"><span style="color: #990000; font-size: x-large;">CARN</span></p><p style="text-align: center;"><span style="color: #990000; font-size: x-large;">e</span></p><p style="text-align: center;"><span style="color: #990000; font-size: x-large;">AVAL </span></p>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-10463574764431960492020-12-22T12:34:00.001-03:002020-12-22T12:36:41.306-03:00Carta aberta para Igor Fagundes<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLi-XNO-gIRG-cWrMOhCdG53eDmh3tNPKbu60HfsZ0ETB0CQ2gqyOSY1o-fGQvlWofbRB_3sb0KYQ4cBN4psw7lrvWeDuYQRjB1n_22H2Sx8HpWvo0kU7Sa68Wp_KJQns4jLycikWzrFtv/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="960" data-original-width="720" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLi-XNO-gIRG-cWrMOhCdG53eDmh3tNPKbu60HfsZ0ETB0CQ2gqyOSY1o-fGQvlWofbRB_3sb0KYQ4cBN4psw7lrvWeDuYQRjB1n_22H2Sx8HpWvo0kU7Sa68Wp_KJQns4jLycikWzrFtv/w300-h400/image.png" width="300" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: medium;">Querido Igor,</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: medium;">meu próximo livro de poesia, <i>Do amor e das suas (des)formas</i>, sairá pela 7 Letras em 2021. É um livro curto, já no prelo, com 34 poemas, escritos em 2016, e em 2019 foram acrescentados 34 desenhos de autoria de minha mãe, Oci. Tal acréscimo serviu, dentre outras coisas, para me aproximar dela, que já está em outro plano, e porque esse diálogo entre poesia e desenho (uma coisa só - macumbança) exemplifica o amor incondicional de mãe-filho e filho-mãe. Digo isso não para me autopromover, mas para dar crédito a um grande e querido amigo, Seu Tranca-Rua de Embaré, que me disse no terreiro: "Escreva sobre o amor". Ao ouvir isso, nenhuma importância dei a ele, e gira após gira ele retornava imperativo e amigo com a mesma fala "escreva sobre o amor". Enfim me rendi e ainda em 2016 os poemas estavam prontos, esperando apenas os desenhos. Inicialmente não havia a intenção de unir nossas artes, mas que sei eu? Sei apenas sem saber por quê que demoro muito para publicar, e ele, que tudo sabe, deve estar a rir da união. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: medium;">Meu primeiro livro de poesias, <i>Pretérito Imperfeito</i>, contém poemas escritos entre 1992 e 2012, mas eu nunca pensei em publicá-los porque não me considerava poeta, apenas um diletante bobo e petulante. Foi Leonardo Davino, irmão de todas as vidas, quem leu e me encorajou a publicar. Naturalmente é dele a orelha, como é a ele que eu agradeço por conhecer você, ao sugerir que eu lesse <i>Poética na incorporação</i>. Foi uma leitura maravilhosa que me fez aprender muito, mas ainda necessitei de alguns anos até amadurecer mais: sou um espírito em evolução (perdoe a redundância) e carecia de mais espiritualidade. Como ainda necessito e muito. A macumba apareceu na minha vida em 2006 e escrevo, também, para lhe contar isso. Na verdade, mais do que falar contigo, falo comigo mesmo, é necessário.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: medium;">Até 2006, eu era ateu convicto. Chato, diria, porque eu era daquele tipo de ateu que menosprezava a fé e a crença alheias e procurava, cheio de razão (?), provar a inexistência de qualquer coisa sobre-humana. Elisa de Castro, minha companheira há 17 anos e mãe de nossas três Marias, ao contrário, sempre esteve ligada à vida espiritual, mais que isso, à macumba. Ela convidou-me, naquele ano, a ir a uma festa de São Jorge na Tenda Espírita São Jorge, a sétima casa de umbanda aberta pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas e que mantém-se com trabalhos ininterruptos até hoje. Obviamente, desdenhei do convite e ela seguiu macumbando sozinha. Diante da minha incredulidade e sobretudo da minha zombaria, Elisa contou para um amigo nosso em comum o meu ateísmo. Ele também é macumbeiro, mas eu desconhecia isso. Foi então que a magia ocorreu. Sem me dizer para onde íamos, e com o pretexto de que precisava da minha ajuda para resolver um problema, levou-me para o Grupo Umbandista Caboclo Rompe Mato. Era uma gira de Preto Velho. Recordo-me que, enquanto assistia a gira, mentalmente criticava a ingenuidade daquelas pessoas, encenando um teatro (macumbança). Enfim, chegou a vez de me sentar diante da Velha Maria do Rosário e, ao dar as mãos a ela, senti algo que jamais havia sentido. E ainda não consigo explicar, só sentir. A bondade e a sabedoria próprias dos Pretos Velhos me colocaram uma pulga atrás da orelha. Se a espiritualidade não existe, o que foi que senti? Se nada disso é real (!), como ela me disse coisas que mais ninguém sabia? Uma semana se passou com a inquietação gritando em mim, até que voltei com o Duda para a gira seguinte, de Exu. Ali me rendi e macumbancei. Comecei a trabalhar no terreiro e a me desenvolver como médium. Alguns anos fiquei no Rompe Mato até receber orientação do alto de que meu lugar era na Tenda Espírita São Jorge, onde trabalho até hoje.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: medium;">Há muitos pormenores que mereceriam registro aqui, mas não é exatamente sobre mim que pretendo falar, muito embora sempre seja. Até o dia 15 desse mês, eu era um macumbeiro que não acreditava em Deus e que sempre duvidava de tudo. Sobretudo porque possuo uma doença séria que a macumba não dava jeito de curar. Dia 15, fui acometido por uma grave crise novamente e algo diferente ocorreu. Não há explicação. Também não houve cura. Mas houve cura macumbança. O mais próximo que a linguagem pode afirmar é que ocorreu um despertar espiritual. Sou um novo homem desde então. E lá se vão "apenas" 7 dias até o momento que lhe escrevo. Sete. Nada é à toa. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: medium;">Dia 16 fui com Elisa e nossas Marias nos refugiar na natureza após meses de isolamento social presos em casa. Era necessário estar próximo do verde, de Oxóssi, de Oxum (minha mãe) e de Omulu (meu pai). No meio da natureza, permanecemos em isolamento, mas não estávamos sozinhos porque nunca estivemos. A caminho de lá, me ocorreu escrever um Manifesto Autofágico, ainda a ser escrito. Na bagagem, Macumbança, único (?) livro que levei comigo. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Em 2017 defendi minha tese de doutorado, <i>Bruxaria do início ao fim</i>, a ser publicada pela EdUERJ em 2021. Iniciei o doutorado com um projeto para pesquisar blogs, mas exatamente após dois anos, sentia-me insatisfeito com o corpus da pesquisa e não via razão para prosseguir. Exu então se manifestou. Durante uma gira, Dona Maria Padilha me disse para escrever o que eu quisesse, que não deixasse ninguém me impedir. E então a encruzilhada mostrou meu caminho, destrancou a pesquisa e mergulhei na obra do bruxo. Na minha modesta opinião, Machado de Assis é nosso maior nome literário, inigualável e penso que jamais alguém conseguirá escrever-dançar-dançar-escrever como ele. Propus uma tese que também contivesse ficção e busquei uma escrita-pastiche. Assim abro um dos capítulos centrais para a pesquisa, que, humildemente, em vários momentos se aproxima do que você escreve em Macumbança, mas sem o seu talento, ou melhor, o seu axé: "</span><span style="text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Meu caro leitor crítico, algumas páginas atrás afirmei, mais de uma
vez, que a ficção é real. Talvez aches esse argumento absurdo, iludindo-se ou
conhecendo-se um ente da realidade estabelecida; mas eu chamo a tua atenção
para a sutileza daquele pensamento. O que eu quero dizer carecerá da
colaboração de alguns teóricos e pensadores aptos a me auxiliar, ou melhor, a
te ajudar a te reconhecer como um ente ficcional. Nesse ponto, assumo as
contradições desse mundo e obedeço às exigências acadêmicas das quais pretendia
fugir, pois valso no compasso da orquestra. Como requer a valsa, dividirei em
três partes este capítulo, cada uma correspondendo a um movimento". A tese dança. </span></span><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Os leitores dirão se obtive êxito, mas ao menos a banca, meus cinco leitores iniciais, atingindo ao menos o desejo de Brás Cubas, que se contentaria com esse número, aprovou a tese. Se somarmos os dois suplentes, foram sete leitores. Sete. Ela é dedicada ao amigo-irmão Leonardo Davino, o melhor e mais luxuoso interlocutor que eu poderia ter durante a pesquisa.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: medium;">Voltemos à natureza. No meio do silêncio, da floresta, do lago e da lua (rua), iniciei a leitura de <i>Macumbança</i>. Eu teria lido em um único dia simplesmente porque o livro é genial. Digo que é genial porque me falta palavra mais adequada para expressar o que senti. As palavras sempre a me faltar. O indizível sempre dando um jeito de se dizer. A magia sempre mágica. Não poderia terminar a leitura em um único dia porque passaria os demais sem outro (?) livro e preciso de livros. Assim, a cada dia lia um pouco e descobri que sou incapaz de dizer o que quer que seja de <i>Macumbança</i> porque nada que se diga é suficiente. Se há algo a dizer para elogiar seu trabalho é manter o silêncio, que contém todas as palavras. Fui capaz de escrever crítica e teoricamente sobre Machado de Assis, mas não tenho palavra alguma para resenhar, prefaciar, criticar <i>Macumbança</i>. Nenhuma. Isto é: todas. A ela (a você) só gratidão. Lisonjeio-me ao perceber afinidades entre o que escrevi e o que você escreve, mas se há diálogo, é conceitual, não estilístico. O seu é singular. Cogitei pinçar alguns trechos meus e seus para me engrandecer, mas fica o convite para a leitura. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: medium;">Desde que me entendo por macumbeiro fujo da espiritualidade, procurando viver sob o diapasão da razão, da teoria, da filosofia. Se na tese eu quincasborbeei, na vida eu agora macumbanço sem receio algum. A leitura foi sobretudo um aprendizado para a vida. Não mais nego quem sou. Sou poeta, escritor, crítico, professor, pai, marido, filho, macumbeiro. Sou o mesmo homem repartido por todos os homens, escrevo a poesia repartida por todas as poesias, vivo a vida vivida por todas as vidas. A teoria não explica o poético, antes o poético é. O curioso é que defendi isso na tese, mas não sentia, ou melhor, na encruza, apenas pensava. Agora sinto-me pleno. Macumbançar é verbo que não se conjuga no pretérito, sempre no presente.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: medium;">Antes de regressar da natureza, olhei para o fundo do lago e vi a lua. Era dia claro e a lua estava no fundo das águas de Oxum. Imediatamente olhei para o alto e a vi. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Eu vi chover eu vi relampejar / </span><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">mas mesmo assim o céu estava azul / </span><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Firma seu ponto na folha da Jurema / </span><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Oxóssi é bamba no aracaju</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier; font-size: medium;">Agora, de volta à cidade, à rua</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Mas ele é, capitão da encruzilhada </span><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">(Ele é) / </span><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Mas ele é, ordenança de ogum / </span><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Sua divisa quem lhe deu foi oxalá / </span><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Sua coroa quem lhe deu foi omulú / </span><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Ô salve o sol, salve a estrela, salve a lua / </span><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Saravá seu tranca rua, que é dono / </span><span style="color: #cc0000; font-family: courier;">Da gira no meio da rua</span></span></p>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-15687349251790931732020-05-02T15:25:00.003-03:002020-05-02T15:25:35.234-03:00Cantarola o Dia<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Cantarola Cartola</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Minha vida e convida</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">O compasso de meus passos</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">A seguir sem eira</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Até a beira da Mangueira</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Morro sambista da vista</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Do amor à passarela</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Aquela avenida </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Unida em harmonia</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Pulsando na bateria </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">No ritmo da passista baiana</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Assista festa soberana</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">No rosto do povo</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Refugiado na fantasia</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Daquele dia sem fim</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Arlequim distante </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Da verdade adiante</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Ao sol nascente </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Quente e bamba</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Como a gente que aguarda </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Em guarda à espera de um </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Único</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Dia</span>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-57136889516873038352020-04-29T18:50:00.003-03:002020-04-29T18:51:54.510-03:00<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">Doravante não olho pra trás </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">Me compraz prosseguir adiante</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-large;">Eis que sou ás do volante audaz</span>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-29583696697824038262020-04-29T18:47:00.000-03:002020-04-29T18:47:29.114-03:00<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Palavra é matéria </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Sincera quimera</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Performa o mundo </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">fundo reverbera </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Sentido não tem</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Convém sustenido </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Sentido amém </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Porém invertido</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Palavra é falsa</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Condiz com a verdade </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Metade desgraça </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">A força nefasta </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Afasta o esboço</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">De moço poeta</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Profeta sem verbo</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Palavra é nada</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Do todo ao tudo</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Veludo absurdo</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Incomunicável </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Afável beleza</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Destreza feroz</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">A voz da palavra</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"><br /></span>
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">É matéria toda</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Ao nada diz tudo</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Contudo a palavra</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Lavra conteúdo </span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Sem rima e desnudo</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Algoz de si mesma</span><br />
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Concreta e feroz</span>Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-44650524046227740192020-04-13T10:47:00.003-03:002020-04-13T10:47:43.186-03:00<div style="text-align: center;">
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-large;"><b>NO</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-large;"><b>r</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #990000; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-large;"><b>MAL</b></span></div>
Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-79109800995217236252020-03-25T14:36:00.001-03:002020-03-25T14:36:31.502-03:00<div style="text-align: center;">
<span style="color: #990000; font-family: Courier New, Courier, monospace; font-size: x-large;">SÊ</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #990000; font-family: Courier New, Courier, monospace; font-size: x-large;">PAR!</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #990000; font-family: Courier New, Courier, monospace; font-size: x-large;">AÇÃO!</span></div>
Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6062160208575637583.post-33375765568809546532020-03-24T16:56:00.001-03:002020-03-24T16:57:09.025-03:00PESADELO DE MIM<span style="color: #990000; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: large; text-align: justify;">Dentro de mim vejo escuridão</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">O coração acelera</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">Taquicardia inútil </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">Nada sinto</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">No oco do peito</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">Cabeça é tormenta </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">Me atormenta </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">Em buscas inúteis </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">Presa fácil indócil agônica </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">As pernas iluminadas</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">Não se movem </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">Não há rota de fuga </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">Para fora de mim</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">Encarcero-me inteiro</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">Pesadelo de mim sem mim</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">Dentro do eu </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">Com vida além</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #990000; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">Apesar de aquém</span></div>
Bruno Limahttp://www.blogger.com/profile/10325153199587446762noreply@blogger.com0