Estou finalmente recuperado. Os últimos 30 dias foram horríveis, mas eles passaram. Há sete anos que não passava por isso de forma tão intensa, e acreditava que nunca mais isso se repetiria. Mas se repetiu. O saldo não foi nada bom, interrompi os cursos que fazia na UERJ e decidi esquecer, pelo menos este ano, qualquer outra atividade acadêmica. Todavia isso não se compara ao maior estrago - o familiar. A Elisa ficou sobrecarregada, com toda a responsabilidade da casa sobre si, a Maria Eugênia se privando de minha companhia, e a Maria Antônia desenvolveu uma fobia e um estresse depois de presenciar minhas crises. De todas as consequências de minha doença esta foi, sem dúvida, a pior e mais penosa. Aos poucos, e com muita paciência, estamos conseguindo fazê-la superar esse trauma. Ela já está muito melhor e em breve estará 100%, como eu.
Decidido a me dedicar a minha saúde e à família no restante do ano, a única atividade acadêmica que ainda pretendo cumprir é a prova de espanhol que farei dia 26 de novembro como última etapa do processo seletivo do doutorado. Então o que fazer? Juntei minhas duas princesinhas e comecei a ler a obra completa de Monteiro Lobato, que eu mesmo nunva havia lido. O contato que eu tinha com sua obra era via adaptação televisiva. Adorava assistir ao Sítio do Picapau Amarelo quando era criança, mas jamais havia aberto um livrinho sequer do autor. Chegou a hora.
Duas coisas me surpreenderam. A primeira foi o interesse despertado na Maria Eugênia, que ouve atenta e concentrada as histórias. Ri, pergunta o significado de alguma palavra, faz comentários, enfim, se diverte com as aventuras. A Maria Antônia, por sua vez, ainda não tem idade para se contentar em ouvir histórias; ela quer gravuras, desenhos e não tem muita paciência para ficar sentada quieta - são dois anos e oito meses de pura bagunça. Mas fiquei feliz com a resposta da Maria Eugênia à leitura. Até então seu universo literário era composto basicamente de histórias de princesas. Nossa última sessão de leitura durou cerca de duas horas e só foi interrompida porque, como ela já está aprendendo a ler, ela queria ler para mim uma historinha do livrinho da Pequena Sereia.
A segunda surpresa foi o texto em si. Até então, eu estava habituado com as histórias de princesas que contava para as crianças, com sua linguagem apropriada para a faixa etária delas. Com Monteiro Lobato, apesar de ser também literatura infantil, a linguagem empregada é outra, muito mais rica e complexa daquela das historinhas. Isso nos faz pensar em muita coisa, desde a construção cognoscitiva das crianças que liam Monteiro Lobato décadas atrás e das crianças que têm acesso a uma literatura pasteurizada hoje. Essa pasteurização é corrente em nossos dias em várias frentes, no entanto. Lendo Monteiro Lobato, fiquei encantado com o que lia e ao mesmo tempo me autocensurei de não ter procurado essa leitura há tempos, quando ainda criança, pois certamente teria aproveitado e me enriquecido mais. Agora, resta-me esperar a próxima sessão de leitura, e me divertir junto com Maria Eugênia. Para quem está saindo de um período horroroso de saúde, nada melhor do que a companhia infantil e um bom livro para restabelecer a paz de espírito.
"Emília no país na gramática" é ótimo...
ResponderExcluirAbraços.