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domingo, 29 de maio de 2011

A História do Leitor Sumido ou O Retorno do Autor

Há quase seis meses que me dedico a leituras de biografias, de história, de entretenimento, de psicologia, de literatura infantil e, sobretudo, de romances espíritas. Sim, foram vários, senti a necessidade de mergulhar nesse mundo em busca de algumas respostas - nem todas encontradas. Mas, seis meses depois, precisava voltar urgentemente à literatura, necessitava retornar ao meu universo, mergulhar de cabeça nos clássicos, reler obras de peso para a literatura universal e, principalmente, para mim. Por onde começar? Nesses tempos de blogs e de narradores que, por ausência de intercâmbio de experiências, pouco têm o que narrar - de acordo com o pensamento benjaminiano -, achei que não haveria melhor obra do que As mil e uma noites.
Vi-me, então, imerso num mundo mágico, rodeado de maravilhas fantásticas, de gênios, fadas, magia - um mundo muito diferente do ocidental. A versão de Antoine Galland suprimiu as partes eróticas do original árabe, mas, mesmo sem o tom picante, é uma leitura deliciosa. A interrupção de Cheherazade a cada amanhecer desperta no leitor a curiosidade e o anseio em continuar a leitura para saber como será o desfecho da hitória, um precursor da literatura folhetinesca e das atuais telenovelas.
As mil e uma noites oferecem, também, amplo material para se estudar a categoria do narrador. Muito próximo da oralidade, o texto apresenta uma espécie de narração en abîme, em que as vozes dos inúmeros narradores se confundem a tal ponto que, por vezes, uma leitura desatenta pode perder o fio da meada. A esse respeito, é relevante notar o interesse que os personagens têm em contar e ouvir suas histórias, narradas e repetidas sempre que solicitadas, como uma espécie de carta de apresentação. E é interessante notar também que todos têm o que narrar, pois todos narram a sua vivência. Esta marca da oralidade no texto escrito suscita boa discussão, e eu adoraria ter tempo para empreender uma pesquisa nessa direção. Fica, pois, a sugestão para quem quiser se aventurar - será, certamente, uma aventura inesquecível ouvir as histórias da sultana Cheherazade com uma ambição para além de uma "simples leitura".
Após concluir minha releitura e retornar aos textos literários, de onde, confesso, nunca deveria ter me afastado por tão longo tempo, decidi também contar a minha experiência de leitor e reativar este blog. Francamente, Barthes, mas o autor já não mais está morto há muito tempo. Ademais, quem se interessar em pesquisar a categoria do narrador na contemporaneidade não pode fechar os olhos para os narradores dos blogs. Tenho uma hipótese de que os blogs servem, teoricamente falando, como uma forma dos autores-narradores conseguirem expressar suas vivências de mundo, de alguma forma se aproximando, em certo sentido, do narrador benjaminiano. Mas, para isso se confirmar ou não, necessário seria tempo e investimento numa pesquisa mais detalhada.
Para encerrar, não posso deixar de pontuar, como revisor que sou, a péssima revisão da edição da Ediouro. Uma edição de luxo, em dois volumes, muito bonita e bem cuidada, com apresentação de Malba Tahan, merecia uma revisão mais cuidadosa. Há erros grosseiros de pontuação, concordância e ortografia. Prontifico-me a realizar a revisão com prazer, basta me contactarem. Em todo caso, com esse senão anotado, ainda assim é uma leitura indispensável.