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sábado, 24 de dezembro de 2016

Sou uma pessoa confusa, talvez. Uma pessoa. Sem adjetivos, é melhor. Sou apenas uma pessoa. Não acredito em Deus, mas sou umbandista e trabalho com meus guias. Acredito, portanto, em espíritos. Em Deus, não. Descarece entender. Deus, para mim, é o Tempo, deus supremo. O mais poderoso, brincalhão e sacana que há. Deus dos deuses. Sinto, porém, que meu Tempo acabou. Talvez para recomeçar. Tempo espirituoso. Sua vilania roubou-me o tempo. Ou sua ironia irá recomeçar tudo. Again and again and again and again.
Presa no meu corpo
sem repente, de mente e alma
a imaginação torna-se
reclusa e limitada
para sempre

presa fácil

sem meu corpo 
demente
a alma se liberta
num repente
absoluta e folgada

sem pressa 
sem corpo
sem nada

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

domingo, 18 de dezembro de 2016

Todos os vícios que me adornam
Convenham mais ao vento que parou
Mas temo muito o tempo
Vemos tolos o final do mundo
Poesia é imitação, dizia o grego
Não me atrevo a imitar
Mas limitar e enterrar as palavras
Todas já mortas, sem sentido
-- eis aí a imitação (interdição) inescapável
e admirável

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

TODOS

Contrário
à esquizofrenia dos sujeitos múltiplos
que habitam em
mim
cada qual gritando desejos divergentes
inconsistentes e inconscientes
sigo reto direto e incerto
por um
único
caminho
solitário
sem
fim

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016



A vida até perece pela fresta
Incerta hora é o que nos presta
Não enlouquece com apreço que ela dobra
Enverga o fora pra já, sem demora

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

SIM

Amanhece, como em todas as manhãs, sem querer erguer-se da cama. Traga o cigarro ainda apagado e então levanta-se em busca do fósforo, instrumento para a combustão urgente para acender o espírito. Eis que a vida, entre baforadas, sorri para o infeliz. Toca o telefone, no volume mais alto possível, espécie de fanfarra estridente. Na linha, a voz do amor. Gagueja o semi-desperto e sorri ao som do inusitado, sempre a pilheriar com os incrédulos. Recebera, de supetão, um pedido de casamento. Inábil e rancoroso com o Cupido, emudeceu e somente disse o inaudito. Desfilou o rosário de impudências e imprudências, quando tudo que precisava dizer era um simples sim. Diante do fantástico, o amor, despeitado, virou raiva, talvez mágoa, vá saber o Tempo, deus dos deuses. Mal acordara, já não tinha mais nem casamento, nem companheira. Cansou-se a mulher, não antes de reduzi-lo a nada. Encontrou abrigo num quarto, longe de casa e do mundo, distante da vida que já não tinha.