Pesquisar neste blog

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O Rio de Janeiro continua lindo, mas acho que até Ele está pedindo ajuda. Não faço parte dos apavorados de plantão, mas, convenhamos, a situação está caótica. Foi nessa desordem que entrincheirei-me e rumei para a UERJ para fazer a prova de espanhol, última etapa do processo seletivo do doutorado. Nas ruas, poucas pessoas e pouquíssimos carros. Não vi nenhum pegando fogo, então, avante.
Cheguei ao meu destino bem rapidamente, sem trânsito algum no trajeto. Uma aura de anormalidade acompanhava a cidade. Os transeuntes não se olhavam. Pareciam não respirar. Pisavam em ovos. O medo parecia uma entidade que a todos dominava. As últimas imagens da cidade em guerra permanecia na retina da população. O tempo nublado combinava com a guerra urbana que a cidade assiste; o calor infernal fazia jus à onda de incêndios pela cidade. Desci do ônibus e, à frente, vindo em minha direção, três homens suspeitos, com atitudes suspeitas, pareciam tramar alguma coisa. Passaram por mim e seguiram seu caminho. Não tinha tempo para eles. Também não tinha medo, ou melhor, meu medo era outro. Diferentemente de todos os cariocas, estava em pânico porque dali a poucos minutos estaria diante de uma prova de um idioma que eu desconhecia. Nunca estudei espanhol na minha vida e a minha garantia era a semelhança com o português - muito pouco para a importância da ocasião.
Subi no elevador e, ao descer no Instituto de Letras, o reflexo das ruas, quase ninguém. Eu sabia de antemão que as aulas da graduação haviam sido suspensas, mas por telefone uma funcionária me garantiu que a prova não fora cancelada. E se a prova não foi cancelada, não seria o Comando Vermelho que me impediria de fazê-la. Eles que enfiassem seus fuzis no &%#! Há pelo menos uma semana que sofro de ansiedade, suo frio, tremo, tenho pesadelos e, pior, continuo sem saber espanhol. Precisava fazer a prova de qualquer jeito para me livrar desse tormento. Fosse qual fosse o resultado da prova, meu calvário estaria terminado. Apenas mais alguns minutos e estaria livre.
Na pós, encontro o Roberto Acízelo que me dá a notícia com seu jeito amigável: "Bateu com o nariz na porta." "Hã?" "A Prova foi cancelada." "Você tá brincando!" "Não, é sério." "Mas eu telefonei para cá, me garantiram que haveria a prova." "Você deve ter ligado antes da contraordem." "..."
De volta para casa, cego de raiva, pedi a Deus para colocar em meu caminho algum traficantezinho de merda metido a incendiário. Me serviria como uma luva para descarregar minha ira. Já que o mundo é tão injusto, a justiça seria feita pelas minhas próprias mãos. Na verdade, não queria fazer justiça, queria apenas aliviar minha cólera, e precisava de um motivo. Felizmente, nada estranho aconteceu, cheguei são e salvo e agora precisarei aguardar a nova data para a prova. Mais calmo e polianamente, penso que pelo menos terei mais tempo para me preparar para a prova. Mierda!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Agora

Agora sei que não sou o melhor E, honestamente, não o quero ser Agora estou livre, incógnito na multidão Mais um rosto anônimo entre tantos Hoje tenho certeza da minha pequenez Que me torna grande, imenso, repleto, pleno Faço de mim apenas mais um E, como mais um, tenho meus momentos - poucos, porém especiais Hoje me encontro onde sei que deveria estar Assim mesmo, sem medo de frases feitas Pois sou comum, nada especial Sem méritos nem louros nem aplausos nem prêmios Agora posso prosseguir de cabeça erguida Ciente dos meus erros passados, Mas mirando sempre o futuro, Com os pés no chão e a cabeça por aí, onde interessa - meu maior presente Hoje, certo de quem eu sou - e de quem eu não sou, Comprometo-me menos, arrisco menos, vacilo menos Mas acerto mais e valorizo mais cada conquista Mesmo aquelas aparentemente insignificantes Hoje vivo e vivo respiro aliviado Retiro as máscaras todas Sem deixar de ser, contudo, múltiplo - agora mais do que nunca Agora respiro fundo e vou-me embora pra Pasárgada

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Finalmente recuperado

Estou finalmente recuperado. Os últimos 30 dias foram horríveis, mas eles passaram. Há sete anos que não passava por isso de forma tão intensa, e acreditava que nunca mais isso se repetiria. Mas se repetiu. O saldo não foi nada bom, interrompi os cursos que fazia na UERJ e decidi esquecer, pelo menos este ano, qualquer outra atividade acadêmica. Todavia isso não se compara ao maior estrago - o familiar. A Elisa ficou sobrecarregada, com toda a responsabilidade da casa sobre si, a Maria Eugênia se privando de minha companhia, e a Maria Antônia desenvolveu uma fobia e um estresse depois de presenciar minhas crises. De todas as consequências de minha doença esta foi, sem dúvida, a pior e mais penosa. Aos poucos, e com muita paciência, estamos conseguindo fazê-la superar esse trauma. Ela já está muito melhor e em breve estará 100%, como eu.
Decidido a me dedicar a minha saúde e à família no restante do ano, a única atividade acadêmica que ainda pretendo cumprir é a prova de espanhol que farei dia 26 de novembro como última etapa do processo seletivo do doutorado. Então o que fazer? Juntei minhas duas princesinhas e comecei a ler a obra completa de Monteiro Lobato, que eu mesmo nunva havia lido. O contato que eu tinha com sua obra era via adaptação televisiva. Adorava assistir ao Sítio do Picapau Amarelo quando era criança, mas jamais havia aberto um livrinho sequer do autor. Chegou a hora.
Duas coisas me surpreenderam. A primeira foi o interesse despertado na Maria Eugênia, que ouve atenta e concentrada as histórias. Ri, pergunta o significado de alguma palavra, faz comentários, enfim, se diverte com as aventuras. A Maria Antônia, por sua vez, ainda não tem idade para se contentar em ouvir histórias; ela quer gravuras, desenhos e não tem muita paciência para ficar sentada quieta - são dois anos e oito meses de pura bagunça. Mas fiquei feliz com a resposta da Maria Eugênia à leitura. Até então seu universo literário era composto basicamente de histórias de princesas. Nossa última sessão de leitura durou cerca de duas horas e só foi interrompida porque, como ela já está aprendendo a ler, ela queria ler para mim uma historinha do livrinho da Pequena Sereia.
A segunda surpresa foi o texto em si. Até então, eu estava habituado com as histórias de princesas que contava para as crianças, com sua linguagem apropriada para a faixa etária delas. Com Monteiro Lobato, apesar de ser também literatura infantil, a linguagem empregada é outra, muito mais rica e complexa daquela das historinhas. Isso nos faz pensar em muita coisa, desde a construção cognoscitiva das crianças que liam Monteiro Lobato décadas atrás e das crianças que têm acesso a uma literatura pasteurizada hoje. Essa pasteurização é corrente em nossos dias em várias frentes, no entanto. Lendo Monteiro Lobato, fiquei encantado com o que lia e ao mesmo tempo me autocensurei de não ter procurado essa leitura há tempos, quando ainda criança, pois certamente teria aproveitado e me enriquecido mais. Agora, resta-me esperar a próxima sessão de leitura, e me divertir junto com Maria Eugênia. Para quem está saindo de um período horroroso de saúde, nada melhor do que a companhia infantil e um bom livro para restabelecer a paz de espírito.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O futuro da humanidade

Uma vez Flávio Carneiro escreveu um texto explicando por que não gosta de ler Paulo Coelho. Isso é melhor do que simplesmente repetir que a literatura de Paulo Coelho é ruim sem que sequer se tenha lido sua obra. Eu, por exemplo, que faço coro aos críticos do "mago", só li Brida, leitura obrigatória do colégio, quando tinha quinze anos. Razão suficiente para, de lá para cá, nunca mais ter lido nada, nem tenciono ler. Digo isso porque ganhei de presente, de uma amiga de minha mãe, O futuro da humanidade, de Augusto Cury. Na minha edição, na capa, consta a informação de "8 milhões de livros vendidos no Brasil". Bom, é um bocado de livro para a realidade editorial no Brasil. Lembro que meu primeiro comentário ao receber o presente foi "Não acredito que ganhei um livro de autoajuda". Mas, como a amiga de minha mãe é uma pessoa muito querida, resolvi ler o livro. Ainda mais porque ela deve ter me presenteado com o livro porque estou passando por um momento bem delicado de saúde. Há três semanas que estou às voltas com um velho problema neurológico que me complica bastante a vida. Não tenho conseguido sair de casa, Elisa e as crianças estão sofrendo bastante, estou muito dependente, com dificuldade de me alimentar sozinho, tomar banho sozinho etc. Academicamente, desisti dos cursos que estava fazendo como ouvinte na UERJ e ainda fui muito mal na entrevista do doutorado, que precisei fazer de cadeira de rodas. Nessa última semana melhorei muito, já consigo levantar da cama e caminhar até o sofá, mas ainda é prudente ficar em casa para evitar maiores transtornos. Diante desse quadro, um livro de autoajuda, na visão da amiga de minha mãe, viria a calhar. Li metade do livro e não aguentei mais, abandonei a leitura. Eu sempre procuro, ao iniciar um livro, ou um filme, ir até o final, não importa se estou gostando ou não. O único livro que me lembro de ter abandonado no início foi O cavaleiro da esperança, de Jorge Amado. E agora O futuro da humanidade. Continuar a leitura é uma ofensa a minha inteligência e a minha intelectualidade. Não vou, como fez o Flávio, escrever um texto para explicar por que não gosto de autoajuda, mas acho que vocês devem imaginar. Foi também o Flávio, em seu último livro - O leitor fingido -, que me ajudou a interromper a leitura sem culpas. Neste, Flávio fala que não há motivo para ir até o final se a leitura não é agradável - uma coisa meio que óbvia, não é verdade? Tenho inúmeros livros que gostaria de ler - e que não encontro tempo para a leitura - para me ocupar com o Dr. Augusto Cury. Nágile, agradeço bastante o presente, mas sou bastante exigente quando o asssunto é literatura.