Pesquisar neste blog

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Férias escolares

* O grito, de Edvard Munch
Já são quase 30 dias de férias das crianças. São duas crianças lindas, adoráveis, inteligentes, espertas, brincalhonas e desobedientes. Duas pestes. Nos divertimos muito durante o recesso escolar, pintamos e bordamos, mas, o que elas não sabem, e parecem nem desconfiar, apesar de todas as minhas explicações, é que eu não estou de férias (!) Da última vez que a editora me telefonou, perguntando a minha disponibilidade para mais um trabalho, respirei fundo, me sentei, fechei os olhos, pensei nos meus orixás e acabei dizendo, trêmulo, com uma gota de suor escorrendo pelas minhas têmporas, que estava disponível sim. Restava agora pedir permissão para as crianças, que, naturalmente, não a deram. Uma das desvantagens de trabalhar em casa. Amanhã começará o último fim de semana das férias escolares. Estou exausto! Um amigo meu me disse que eu estava exagerando, que criança cansa sim, mas que não é para tanto... Talvez... Mas, aqui em casa, há tempos atrás, uma fralda de cocô foi parar no teto. Sorte que o ventilador estava desligado. Acho que, depois desse exemplo, não tenho mais que explicar que em casa eu não tenho duas crianças, tenho duas (...), mas que são tudo de bom.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A revolta das vogais

O segundo livro de Solano Guedes ratifica seu talento. Sua imaginação encontra, na reforma ortográfica da língua portuguesa, terreno fértil para a revolta das vogais. Oprimidas pela maioria absoluta de consoantes, elas se rebelam, se organizam, e fundam o movimento separatista AUÊ. Recebem também apoio dos acentos agudos e circunflexos, que, sem as vogais, perdem muito de sua função. Quem também colabora com as vogais é a letra H, "uma consoante rebelde muito silenciosa que se infiltrava com facilidade entre todas as letras". Com o H, foi desenvolvida a Bomba Hiatômica - "uma bomba ortográfica de efeitos jamais vistos". As vogais, finalmente, atingiram sua intenção e o alfabeto tornou-se caótico, sem que palavra alguma pudesse ser formada. É nesse cenário que o Y, sempre envolvido em movimentos pacifistas, resolve agir. Com o auxílio do W, que trabalhava com internet, e do K, que se tornara rei, a paz entre as vogais e as consoantes é restabelecida.
A revolta das vogais, além de ser uma leitura deliciosa, apresenta ilustrações também de Solano e de Flávia Garcia de Carvalho. Com bastante criatividade, o autor conseguiu converter a reforma ortográfica em um mote para mais uma ótima história. Vale a pena conferir, também, A história dos três pontinhos, publicada pela mesma editora, a Vieira & Lent Casa Editorial.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Poesia marginal

Centro da cidade. Tarde de julho. O que eu fora fazer já estava resolvido e agora estava em pé, sem destino certo, pensando em que direção tomar. O que fazer. Eu era um ponto fixo, imóvel, indeciso, no meio da correria das pessoas agitadas e preocupadas do centro. Ternos, gravatas, saltos altos. E eu. Estranho. Nesse momento, não sei de onde, surgiu um homem simpático, comunicativo e direto que veio a mim. Oferecia sua poesia numa folha xerocada. De um lado, poemas; de outro, um desenho seu. Normalmente, reajo mal a esse tipo de abordagem. Sou severo, crítico, implacável. Também preconceituoso, confesso. Mas hoje não. Respondi com simpatia ao poeta. Seu rosto me era familiar, mas, na hora, não sabia de onde o conhecia. Agora me lembro. Mundo pequeno. Centro da cidade. Brinquei que ele revivia a geração mimeógrafo. Ele apontou divergências. De bom humor, comprei sua xerox, suas poesias, seu desenho - um real. Me distanciei pensando em sua coragem. Ou maluquice. No bom sentido, claro. Eu, por exemplo, morro de pudores a mostrar algum poema meu para alguém. Chamar de poesia seria petulância. Poesia ou poema, não ganham as ruas. Vão se acumulando em uma pasta no computador. Sem leitores. Sem coragem. Sem. À espera de que Alguém resolva publicá-los. Oferendá-los ao mercado editorial. Atingir a crítica especializada. Delírio. Quanto ao poeta do centro da cidade, não cabe a mim tecer comentário acerca de seu trabalho. Ele também tem um blog. Visitei-o. Mas, em seu blog, apenas seu trabalho como artista plástico, nada de poemas. Quem se interessar, basta clicar aqui. Seu nome, Alexandre Tinoco.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Perdi um poema

Perdi um poema A ideia veio certinha verso a verso Então eu caminhava pelo aterro Manhã de sol de inverno - agradável Pensei comigo que bastava repeti-los repeti-los repeti-los repeti-los e em casa com tempo paciência e sossego eu trabalharia e daria forma e acabamento Teria um poema Mas muito trabalho sobre a mesa - é preciso ganhar dinheiro que importância teriam alguns versos? Os dias passaram A ideia foi desbotando se perdendo sumiu. Hoje tentei salvar a ideia pelo Não deu Perdi um poema

sábado, 2 de julho de 2011

CCBB e os erês

Meu amigo Alexandre e eu levamos nossas princesinhas hoje ao CCBB para assistirmos a João por um fio. A peça, escrita por Roger Mello e encenada e dirigida por Ricardo Schöpke, conta com recursos multimidiáticos para mostrar uma noite na vida do menino João. Quem esperar por uma história com começo, meio e fim vai se decepcionar, uma vez que a noite do menino João é dividida em várias cenas que não têm nada de linear. Foi interessente observar a reação da criançada a esse respeito. As crianças mais velhas - e a Maria Eugênia, de quase sete anos, está nesse grupo - reagiram mal, comentando que não estavam entendendo nada, talvez por estarem acostumadas com a lógica dos desenhos e das histórias tradicionais, além de já estarem inseridas há mais tempo no "aprisionamento" da línguagem verbal. Por outro lado, as menores - e nesse grupo estão a Giovanna e a Maria Antônia, de quatro e três anos, respectivamente - adoraram. Riam, batiam palmas, interagiam. A utilização de uma linguagem bastante corporal e circense pode ter contribuído para que as pequenininhas tenham se deixado levar pela ludicidade da peça. A minha opinião? Que importa? Sou só um adulto...