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domingo, 29 de dezembro de 2013

Minha forma de ver o mundo é verbal. 
Mil imagens não valem uma palavra. 
A palavra contém tudo, sobretudo o 
silêncio.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

BLISS NÃO TEM BIS - Uma revista-disco (brevíssimos comentários)


Acabei de ler-ouvir a revista-disco BLISS NÃO TEM BIS, editada por Clarissa Freitas, Lucas Matos, Marcio Junqueira e Thiago Gallego e recém-lançada no último dia 29. A revista-disco é composta por dois cedês, lados A e B, que apresentam uma nova sonoridade fruto da junção de poesia e música. Não se trata, porém, de musicar os poemas, que passariam a ser então letras de música, mas, ao contrário, oferecer uma nova forma estética a partir da união poético-vocal com arranjos sonoros diversos, flertando, também, com a performance - um fazer poético plural, bem ao gosto da contemporaneidade.
Particularmente, sempre tive restrição a saraus ou a qualquer outra forma de leitura de poesia em público. Minha relação com os versos sempre foi solitária, com o livro em mãos e, quando muito, lia-os em voz alta para mim mesmo, de modo a saborear audivelmente as palavras. Ultrapassadas leituras, as minhas.
Após terminar a leitura-audição, me dei conta de que eu não sei nada de poesia, ou melhor, preciso conhecer mais profundamente a produção atual, com todas as suas aparições. Os poemas que figuram na revista-disco, além de muito bons, me apresentaram a um fazer poético que eu desconhecia por completo, descortinando novas e interessantes possibilidades de poesia, que transcendem a leitura pura e simples da página de um livro. Pensando com Adorno, o que eu julgava conhecido tornou-se desconhecido. Sinto-me incapaz de dizer o que é poesia após BLISS NÃO TEM BIS
Para encerrar esses brevíssimos e superficiais comentários, discordo de Benjamin ao anunciar que, na reprodução de uma obra de arte, a aura é atrofiada. Esta é, para o alemão, "uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja". De forma muito sucinta, para Benjamin, os poemas da revista-disco, ao serem reproduzidos e ouvidos repetidas vezes em diferentes aparelhos de som, não teriam mais a aura peculiar e própria de todo objeto artístico. No entanto, não é isso o que ocorre, a meu ver. Cada audição singulariza o poema e torna-o aurático sim, a despeito da reprodução técnica. E mais: a cada vez que a revista-disco for lida-ouvida, seus poemas não perderão sua aura, apesar da gravação, a priori, inviabilizar flexões vocais e alternâncias nos arranjos. Isso porque o sujeito que a escuta é outro e, como outro, põe-se novamente diante da arte de maneira a (in)compreender o pensamento que dela provém. 
Fui leviano ao falar muito sucintamente de temas tão complexos, como os tratados por Adorno e Benjamin, e a poesia (?) contemporânea. Tal leviandade se justifica porque o que importa, dentre o que escrevi nessas poucas linhas, é que vale muito a pena conhecer a revista-disco BLISS NÃO TEM BIS - e se maravilhar.