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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Eleonora Oci

Depois de duas semanas muito difíceis, tento retomar minha rotina e minha vida, voltar à normalidade, aceitar o imponderável, compreender os desígnios incompreensíveis de Deus. E desde já afianço que é esta uma tarefa impossível. Hoje sou outro homem. Completamente diferente daquele que seguia impávido, repleto de certezas, convicto, seguro e destemido. Descobri, sem medo do lugar comum, que não sei de nada, jamais soube. E isso é tudo.
É tudo, mas não termina aqui. Para falar a verdade, a minha história tem um novo início, e ele se dá agora. Só agora sinto que começo a viver para valer, pois precisei esperar 37 anos para dar importância ao que realmente tem importância. Não me é possível reviver tudo o que já vivi e refazer meus caminhos, substituir os incontáveis erros por novos acertos. Meus atalhos serviram-me como experiência; são cicatrizes que tenho espalhadas pelo meu corpo e pela minha alma, são as rugas que tornam-me, furtivamente, quiçá, um pouquinho mais interessante do que os meus pares. De duas semanas para cá, sofro uma dor aguda e incurável, e por vezes penitencio-me por não ter feito diferente nas várias oportunidades que eu tive ao longo de minha vida. Mas, certamente, fiz o melhor que eu pude fazer. E hoje, com a cabeça erguida e com os olhos marejados, sigo certo do meu melhor - ainda que ele seja muito pouco.
Hoje, já não tenho mais a avidez de outrora para ser publicado, ser um escritor reconhecido, com efetivamente algo a dizer. Que importa? Porque finalmente me convenci de que a arte que se quer séria não precisa necessariamente de um público que a legitime. A arte é. Simples assim. Mesmo que sem um único admirador. Aqui na internet tenho lido, dia a dia, bons textos de ilustríssemos anônimos, pessoas comuns que provavelmente jamais serão publicadas por alguma editora - e que possivelmente não nutrem este desejo. E ainda assim escrevem textos maravilhosos.
Como maravilhosas eram as telas de minha mãe. Artista desde sempre, nasceu com o dom da pintura. Quando criança, sem ter tido uma única aula de desenho, sentada na calçada de sua casa na distante São Paulo do Potengi, reproduzia o que lhe passava diante dos olhos. Já adulta, no Rio de Janeiro, aperfeiçoou sua técnica, flertou com a pintura abstrata e chegou a vender algumas telas, mas o reconhecimento público não veio - pelo menos não o reconhecimento do grande público, para além do círculo de amigos e parentes. Sempre foi meu desejo que ela buscasse alcançar as grandes galerias de arte, que um maior número de pessoas tivesse o prazer de ver o seu trabalho. Mas não era só isso, hoje eu sei. No fundo, o que eu queria era que minha mãe, através do sucesso de crítica e de público, fosse chancelada como uma grande artista plástica. Como se longe dos holofotes a sua arte fosse menor. Ledo engano.
Hoje, regozijo-me de ter convivido de muito perto com uma grande artista. Muito mais do que isso - sou seu filho, tenho seu sangue, e muito do que sou hoje eu devo a ela. Hoje, duas semanas depois, sinto que eu sou um homem melhor, mais maduro, mais centrado, mais sóbrio, mas sem deixar de ter meu lado doidivanas, meu lado artista também - que é o que importa, no final das contas. Não anseio mais por ser publicado, tanto faz. O que desejo é desfrutar do que descobri nestas duas últimas semanas. Coisas que sempre estiveram bem debaixo do meu nariz, mas, talvez por isso mesmo, me era tão difícil de enxergar. Minha mãe me deu um até breve, mas me deixou inteiro. Me deixou Eu. Mas não sozinho. Ela me deixou cercado pelas melhores pessoas, e agora basta seguir em frente.
Com muito amor, de cabeça erguida, continuo meu caminho. Até breve.

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