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sexta-feira, 10 de maio de 2013

Carta aberta para o poeta Luiz Otávio Oliani

Prezado Luiz Otávio,

acabei de ler seu terceiro livro de poesias A eternidade dos dias e fiquei muito bem impressionado, não podendo me furtar do desejo de lhe escrever. Este blog serve-me, dentre outras coisas, para eu resenhar livros lidos e apreciados, servindo-me também como uma maneira de exercitar minha escrita e de me disciplinar. A ideia da carta nasceu ao ler a fortuna crítica que você elencou ao final do livro, com comentários mais do que elogiosos de escritores já consagrados sobre seus dois primeiros livros - que infelizmente ainda não tive o prazer de ler. Mas pelo que li nesta sua obra, acredito que tal fortuna crítica, apesar de bastante estimulante e incentivadora para você, é desnecessária, pois suas poesias se bastam, elas são. Em entrevista recente que dei para a revista A Cadeira, da Academia Niteroiense de Letras, a ser publicada em julho próximo, me foi perguntado se a vida urbana seria a matéria-prima para os meus escritos, em especial para os poemas de Pretérito Imperfeito, recém-lançado pela Multifoco. Acredito que a matéria-prima para qualquer escritor é a língua, a imaginação, a capacidade de reinvenção, de maneira a não limitar sua criação. E foi exatamente isso, Luiz Otávio, que vi neste seu livro. 
Seus poemas causaram-me profunda admiração pela sua capacidade de se alimentar de palavras e, assim, alimentar igualmente seus leitores, afinal, "o poema também alimenta". Ao ler "Posologia para um poema", lembrei-me de Wanderlino Teixeira Leite Netto, a meu ver um dos maiores nomes da poesia contemporânea. Sei, querido Luiz Otávio, que não sou e jamais serei um escritor consagrado, mas é esta aproximação com a poesia de Wanderlino o maior elogio que eu poderia lhe fazer. 
O seu trabalho com a palavra pareceu-me ímpar e obstinado, uma vez que você faz isso com uma concisão cirúrgica, pois "ao corte/ das nervuras/ o poema/ em seu hábitat" está. Poemas enxutos, sem nervuras desnecessárias, aproximam o operário do poeta, pois "se um usa espaçador de piso/ espátula roldana/ o outro opera em silêncio/ na construção do poema". E o silêncio que há em seus versos - o seu não-dito - também é poesia, também é a sua "Fala".
Sabe, Luiz Otávio, sempre tive um imenso pudor em publicar meus poemas, talvez por excessiva autocrítica, pois me parecia demasiada arbitrariedade me autointitular poeta. Como eu poderia ser poeta, pensava eu, se poetas são Bandeira, Drummond, João Cabral, Rimbaud, Baudelaire, etc. e, entre os contemporâneos, Wanderlino Teixeira Leite Netto, Lena Jesus Ponte, Leila Mícollis, Chacal e tantos outros? A esta lista interminável de Poetas incluo você agora, meu amigo. E agradeço a leitura, o prazer e o aprendizado que ela me trouxe. 
Sabe, a prosa e a poesia contemporâneas possuem uma gama vasta de estilos e direções, o que é muito salutar. Ter essa consciência me é importante porque posso acreditar que, apesar de ser privado de talento poético, posso continuar escrevendo, mesmo porque não poderia deixar de fazê-lo. 
E é isso que publicamente peço a você - continue com sua poética, ela é linda! Que você continue se alimentando e nos alimentando de palavras, pois a "Colheita" é certa e madura e "a poesia pede passagem".
Para finalizar, Luiz Otávio, humildemente percebi certa afinidade temática entre nossas poesias. O grande e querido amigo e ensaísta Leonardo Davino certa vez me falou que sentiu certas reincidências em meus poemas, como "escrever sobre o ato de escrever", tema que sempre me inquietou. Percebi isso em seu livro e, para regozijar-me um pouco, termino essa nossa conversa com essa aproximação que, para mim, é extremamente honrosa. 

Cordial e poeticamente,

Bruno Lima

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