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sábado, 4 de junho de 2011

Nesta última semana estive às voltas, não sei por que razão, com Castro Alves. Só sei que acordei segunda-feira disposto a estudar o poeta abolicionista, pelo menos um pouquinho. Nunca fui um leitor muito entusiasta de poesia, muito menos romântica, então não podia desperdiçar minha súbita boa vontade. E resolvi começar rememorando meus tempos de bolsista de iniciação científica da Biblioteca Nacional, quando participei da exposição Castro Alves: o olhar do outro, em comemoração aos 150 anos de nascimento do poeta, com curadoria de Maria Celeste Garcia e Ângela Barros Montez. Na época, um inocente estudante de Letras, fiquei com a responsabilidade de pesquisar e escrever sobre as musas do poeta. Para um poeta romântico, ordinariamente às voltas com amores platônicos, Castro Alves teve uma vida bastante movimentada nessa seara. A esse respeito, Antonio Candido regozija-se, na Formação da literatura brasileira: "até que enfim uma mulher de carne e osso, localizada e datada, após as construções da imaginação adolescente", referindo-se especificamente à Eugênia Câmara, atriz com quem o poeta viveu e que lhe inspirou alguns de seus poemas. A vida sentimental de Castro Alves, levando-se em conta o período em que viveu, pode ser considerada revolucionária, no sentido de que não se aprisionava aos padrões morais e castradores de então. Terminei a releitura do catálogo, revisitando meus anos de graduando, e ainda não me sentia convencido, ainda não lia Castro Alves com emoção, seus versos nada me diziam.
Jorge Amado tentou me convencer na louvação que escreveu ao poeta com seu ABC de Castro Alves, afirmando e reafirmando ser ele o maior poeta brasileiro de todos os tempos. Está certo que a leitura do romancista baiano é um tanto suspeita, uma vez que ele, comunista que era, tinha um fascínio por causas humanitárias e sociais, chegando, em certo momento, a se questionar se havia Castro Alves conhecido Marx. É claro que a preocupação abolicionista castroalvina e seu empenho, não apenas em seus versos, mas sobretudo na sua atuação política, em favor dos negros escravos colaboraram para uma leitura que só engrandecia a poesia de Castro Alves. Ao final da biografia de Jorge Amado, me perguntei se o poeta merecia todos os elogios esteticamente ou "apenas" por uma questão humanitária, isto é, seus poemas eram formalmente bons ou boa era apenas a sua temática? Para responder, ninguém melhor do que o próprio poeta.
Lendo Espumas flutuantes, seu único livro publicado em vida, mantive minha opinião acerca da poesia romântica - não me agrada. Reconheço, em poemas como "Quando eu morrer", por exemplo, um ritmo que denota o talento do poeta, que não é considerado, nas palavras de Antonio Candido, "um grande poeta, quiçá o maior do Romantismo" à toa. Apesar de Candido, ao contrário de Jorge Amado, também apontar aspectos negativos da sua criação poética, como rimas um pouco forçadas e o exagero de apostos, a qualidade da poética de Castro Alves é inegável. Em muito pouco tempo de vida, ele foi de um fôlego invejável, não se limitando a cantar os amores juvenis comuns aos românticos, mas, principalmente, em elevar o negro escravo à condição de herói, numa época em que barreiras sociais, psicológicas e estéticas quase que inviabilizavam a presença do negro na literatura.
Não sei dizer se uma arte que não aponta questões políticas e sociais é de menor relevância e alienada - não vou entrar nessa discussão agora -, mas, mesmo que Castro Alves tenha sido um péssimo poeta, o que não é o caso, só a luz que ele lançou sobre a questão escravagista já seria suficiente para que ele figurasse entre os grandes da nossa literatura. Continuo não sendo um leitor fervoroso do romantismo, mas isso é uma outra história.

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