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sábado, 18 de junho de 2011

Ontem à noite me levei ao cinema para assistir ao último filme de Woody Allen, Meia-noite em Paris. Confesso que, no início do filme, o reconhecimento de alguns personagens típicos de Allen - como o (pseudo)intelectual pedante, a mulher antítese do alter-ego sonhador do cineasta e o próprio alter-ego - me incomodou, como se eu estivesse apenas diante de um mais do mesmo. Mas não precisei de muito tempo para me convencer de que estava assistindo a (mais um) grande filme de Woody Allen.
O transporte temporal que Gil (Owen Wilson) sofria ao dar meia-noite e encontrar personagens como Fiztgerald, Hemingway, Picasso, T.S. Eliot e tantos outros foi muito bem explorado, com diálogos interessantíssimos e cheios de humor. Ao final de cada noite em companhia de seus ídolos literários e artísticos, Gil era novamente levado ao seu tempo - de aspirador a escritor de romances, ele voltava a sua vida frustrada de roteirista de Hollywood, prestes a se casar com Inez (Rachel McAdams), mulher com quem não se afinisa.
Essa dupla vivência temporal nos remete para a força que a arte tem na nossa construção imagística. A arte, completamente atemporal - mesmo que a contextualização temporal muitas vezes nos ajude a entendê-la -, não se estagna no tempo, não é estanque, mas o transcende, acompanhando o homem em seu percurso histórico. Uma obra de arte não é compreensível apenas aos olhos de seus contemporâneos, mas ela a eles ultrapassa, mantem sua aura e segue provocando encantamento em gerações futuras.
O tempo - esse sim - é ininterrupto, e esse fluxo contínuo deve ser seguido. O tempo não para, e a consciência de que um momento passado deve ser cristalizado, na certeza de que é um tempo indelével, é falsa. Como Gil descobre, seu fascínio pela Paris dos anos 20 só existia por causa da distância de 90 anos do seu momento presente, do mesmo modo que, para os parisienses de então, o fascínio era pela Belle Époque, que, por sua vez, fascinavam-se pela Renascença, e assim seguiríamos numa busca ad infinitum para o passado.
O que o filme nos diz, parece-me, é que a arte, por mais que tenha sido produzida num tempo passado, não está presa a ele. A obra de arte, seja pictórica, literária, musical, escultórica etc., ajuda o homem a entender-se, não importa o seu tempo.
Findo o filme, saí do cinema e a temperatura agradável, o céu limpo e a lua cheia me convidaram para voltar caminhando pela Praia de Botafogo. Já na Rua Marquês de Abrantes, soou meia-noite e não pude deixar de jantar no Lamas com minha amiga Pagu...

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