Pesquisar neste blog

domingo, 15 de janeiro de 2012

Inquietos

Uma das raras certezas que possuímos é a de que um dia todos iremos morrer. Não há escapatória. Seja uma morte prematura, por velhice, sofrida, dormindo; seja uma morte já esperada ou um acidente inesperado e fatal, o fato é que nunca estamos suficientemente bem preparados para lidar com ela. O sofrimento e a tristeza dos que veem uma pessoa querida morrer, independente da causa mortis, são inevitáveis. Em milhões de anos de evolução, o homem ainda não aprendeu a lidar com essa perda, pelo menos em nossa sociedade ocidental.
É essa fragilidade que Inquietos, de Gus Van San, explora. Mas não se trata de um filme mórbido, muito menos de um filme com um quê depressivo; ao contrário, o diretor conseguiu, com muita sutileza e delicadeza, fazer um longa muito bonito a respeito da difícil tarefa de se continuar a viver carregando a dor da perda de uma pessoa querida. E contou com as belíssimas atuações de Mia Wasikowska, que interpreta Annabel, e de Henry Hooper, na pele de Enoch.
Enoch, que não superou a morte de seus pais após um acidente de carro, passa a cultivar o estranho hábito de frequentar funerais de desconhecidos, talvez por não ter tido a chance de se despedir de seus próprios pais, pois entrou em coma após o acidente. É num desses funerais que conhece Annabel, uma jovem em fase terminal de câncer, mas que lida com coragem e leveza a iminência de sua morte. Os dois jovens passam a namorar e é a partir desse relacionamento que suas vidas irão definitivamente sofrer uma grande mudança catártica.
Parece bem acertada a escolha do diretor em colocar a figura de Charles Darwin como um autor de predileção de Annabel, pois os dois jovens conseguirão vivenciar uma espécie de "evolução emocional" no que se refere à morte, ou melhor, ambos conseguirão, dentro do possível e de acordo com suas histórias de vida, superar este momento definitivo que é o óbito.
Enoch, que antes de conhecer Annabel tinha como amigo um fantasma kamikaze da Segunda Grande Guerra, Hiroshi, não ouviu o alerta de seu amigo do além de que o envolvimento com Annabel era muito arriscado, pois o enterro de uma pessoa conhecida não seria a mesma coisa do que os enterros dos desconhecidos que Enoch estava acostumado a frequentar. Mas foi justamente isso que fez com que ele superasse a morte de seus pais e passasse a encarar o fim com outros olhos, talvez porque, desta vez, ele estava lá, inteiro.
Inquietos é um filme muito bonito, com diálogos ótimos e excelentes atuações, que discute, com humor, a finitude a que todos nós estamos destinados. Mais do que um filme sobre morte, é um ótimo filme sobre a vida.

Um comentário:

  1. Também gostei muito do filme, Bruno.
    Apesar de achar um dos mais fracos (careta, talvez) de Gus Van Sant.

    ResponderExcluir