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sábado, 24 de julho de 2010

Nome próprio

Nada mais comum, ao se falar de filmes baseados em obras literárias, do que o comentário "O livro é melhor do que o filme" ou qualquer outra observação nesse sentido. Apesar de saber que não se pode querer comparar dois veículos de comunicação diferentes e apesar de saber também que, mesmo assim, tal comparação é inevitável, tentei assistir ao filme Nome próprio, do Murilo Salles, livre das influências da minha leitura do livro Máquina de pinball, da Clarah Averbuck. Acho que não preciso dizer que fracassei na minha tentativa.
Sempre que leio um livro, vejo um filme etc., gosto de ir até o fim. Muito raramente abandono uma leitura pela metade ou desisto do filme antes do término. Quando li Máquina de pinball, tive que fazer um esforço para ir até a última página, simplesmente porque o livro é, na minha modestíssima opinião, muito ruim. Até acredito que ele tenha a sua importância como exemplar da geração 00, como um texto a ser pensado como resultado de uma bricolagem de textos escritos incialmente em blogs e de textos escritos com a finalidade da publicação impressa. Isso o torna um livro interessante por suscitar questões teóricas a serem pensadas sobre o blog como nova ferramenta de labor literário, mas definitivamente não faz dele um bom livro.
O filme, por sua vez, também me obrigou a me segurar no sofá e a não desligar o dvd e ir para a cama. Achei o filme (muito) ruim - e nem a Leandra Leal amenizou meu descontentamento (!) O livro não é ruim porque é autoficcional, o escritor que sabe utilizar-se como matéria-prima para sua ficção é capaz de criar ótimos textos. Ele é ruim porque é, a meu ver, mal construído esteticamente, sem falar que a vida da Camila, alter-ego de Clarah, é literariamente muito pobre.
Recorrendo a minha primeira pessoa, acho que o que me ajudou a desgostar tanto do livro quanto do filme foi o modus vivendi da protagonista. Quando eu tinha por volta dos meus 15 anos de idade, muito provavelmente me identificaria com o jeito porra louca de Camila - de Clarah? -, mas, passados vinte anos, parecia estar diante de uma "narrativa adolescente" e, aqui entre nós, não tenho mais paciência para esse tipo de coisa. Depois de utilizar várias máscaras que me foram muito úteis entre meus 15 e 25 anos, e depois, principalmente, do trabalho que deu abandonar tais máscaras para construir minha verdadeira identidade, não tenho saco para "bater palma para maluco dançar".
Talvez o que tenha contribuído para minha apreciação desfavorável de Máquina de pinball e de Nome próprio - confesso - foi meu espelhamento na protagonista Camila (Freud explica). Acontece que eu cresci, abandonei as máscaras e, por incrível que pareça, me tornei um adulto. Continuar agindo como um adolescente rebelde, hoje, seria no mínimo anacronismo.

Um comentário:

  1. Bruno, impressionante como você conseguiu escrever EXATAMENTE o que eu achei. O livro é fraco; os livros, na verdade, o Máquina de Pinball e o Vida de Gato (parece que o filme foi baseado nos dois). Mas até que são divertidos, dá pra ler os dois em um dia. Agora, o filme, é duro mesmo de aguentar até o final. Nem a Leandra Leal nua o tempo todo salva! (E ainda me recomendaram porque disseram que a Camila é minha cara). Bom, acho que eu iria amar, se eu tivesse 15 anos. Que bom que mais alguém concorda comigo.

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