Pesquisar neste blog

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Perfil

Encontrei minha orientadora hoje na UERJ. Papo rápido de corredor e, naturalmente, falamos sobre o doutorado. Tudo ia bem até que, de repente, ela sentencia: "Você não tem perfil de literatura contemporânea". Assim, direto, sem lubrificante. Ora, em 2007 fiz uma especialização com bastante ênfase em literatura contemporânea; em 2008 e 2009, durante o mestrado, só li e só escrevi sobre literatura contemporânea; em 2010, na entressafra, continuo às voltas, quase que exclusivamente, com literatura contemporânea para, em 2011, se tudo der certo, iniciar um doutorado para pensar a literatura contemporânea... e eu não tenho perfil de literatura contemporânea?! O que vem a ser isso? Qual é o meu perfil?
Acho que o meu perfil é o de um cara que não tem orkut, facebook, twitter ou qualquer outra ferramenta virtual para a construção de uma identidade. Você vai me dizer que é muita cara de pau a minha dizer isso justamente num blog intitulado Identidade de um eu. Eu até poderia dar o braço a torcer, mas não sem lembrar que este blog é recente e que eu relutei muito em dar as caras por aqui. E acrescento que resisti bravamente, mantendo um diário antes de sucumbir às pressões internéticas e me tornar um blogueiro - Christoph Türke já dizia que quem não tem e-mail, telefone celular e website está morto socialmente. Então vim aqui para renascer, por que não? E também para, como minha pesquisa de doutorado é sobre blogs, me ambientar.
A propósito, acho muito difícil falar sobre literatura contemporânea sem falar em blogs. Eles estão aí, são uma realidade, e merecem um estudo mais sistemático. De que forma eles oferecem aos autores um meio de construção identitária? Como é possível inventar-se via posts, conjugando essa ficção de si com outros discursos autobiográficos? Que sujeito quer se construir discursivamente no espaço virtual para encenar-se como sujeito real? Quanto fragmentário é esse sujeito que necessita de vários discursos e de vários leitores para ser?
Pensando nisso que me despedi da Ana, ainda encucado por não ter o perfil de literatura contemporânea, e me encontrei com meu amigo Leonardo. E foi quando ele me perguntou, à queima-roupa, qual a diferença entre pesquisar a vida alheia na literatura e xeretar a vida alheia no orkut, por exemplo, que percebi que pairava no ar alguma conspiração. Minha primeira reação foi a de dizer que são coisas completamente diferentes, mas o Léo não se convenceu facilmente. E me fez concordar que, no final das contas, o que está em jogo é o exibicionismo e o voyeurismo próprios de nosso tempo. Mas asseguro que é bem diferente pesquisar como o autor retorna na contemporaneidade do que simplesmente vasculhar a página de algum Sr. José num site de relacionamento. Quero crer que eu tenho alguns neurônios a mais para não me satisfazer com os perfis e citações orkuteiros, embora, para me convencer de que tenho sim o perfil da literatura contemporânea, tenha decidido me integrar ao twitter. Agora terei seguidores, procurem-me em breve.

Um comentário:

  1. fico feliz que tenha mordido a isca.
    minha vontade é fazer você verticalizar, a mais não poder, seu pensamento sobre seu objeto de pesquisa.
    (rsrs)
    abração e sucesso

    ResponderExcluir