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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Autores e leitores: crítica e redes sociais

Decepcionado. Foi assim que saí da conferência do Miguel Sanches Netto, que encerrou o ciclo. Percebi um quê bastante conservador, diria até reacionário. Explico: a meu ver, os blogs são um espaço, para ficar no lugar comum, bastante democrático. Qualquer pessoa com acesso à internet e minimamente alfabetizada pode criar o seu e postar nele o que bem entender, de pornografia a literatura. Para restringir o alcance ao que me interessa, os blogs que abordam temas literários e culturais são inúmeros. Destes, os que são muito mal escritos e/ou conteudisticamente fracos, arrisco dizer, são maioria - e neste grupo incluo o meu. Por outro lado, há muita coisa postada em blogs que vale a pena ser lida - de crítica a poemas, de artigos a contos, de crônicas a pensamentos. Não acompanho muitos blogs, mas há alguns que eu leio rotineiramente e para os quais eu tiro o chapéu. E é nesse ponto que a fala do Miguel me incomodou. Para ele, me pareceu, a profusão de blogs só apresenta um lado: o negativo. Aquela velha história de que qualquer iletrado pode criar um blog e sair publicando qualquer asneira, maculando a "alta literatura", é demasiadamente conservadora. E mais: imputar aos blogs a responsabilidade pela perda de espaço que a crítica sofre em suplementos literários é anacronismo, na minha opinião - a de um simples amador.
Creio que é perda de tempo buscar compreender o fenômeno dos blogs ancorado em alguma tradição. Talvez seja acertado dizer, como disse Miguel, que o crítico está morto - e aqui ele se referia a nomes como Antonio Candido, Alceu Amoroso Lima, Wilson Martins e outros, mas esse tipo de crítica encontraria leitores no espaço virtual? Para ficar com Candido, quem leria a Formação da literatura brasileira diante de um computador? Mesmo que fosse em um laptop em algum local agradabilíssimo? O crítico, no meu entender, não está morto, ele apenas se adaptou, ou vem se adaptando, ao novo (já nem tão novo assim, convenhamos) meio de publicação.
A respeito da publicação de qualquer mediocridade que o espaço virtual possibilita, Miguel afirmou que a figura do crítico não faz mais sentido. E eu não consegui entender o porquê. Talvez essa seja mais uma razão para o crítico se fazer presente, apontando que direções seguir nessa nova realidade e construindo, junto com seus leitores, uma rede de pensamento reflexivo acerca do que se publica na internet. Seria função do crítico separar o joio do trigo?
Agora uma observação. É certo que qualquer um publica o que lhe convém em blogs - até eu escrevo essas bobagens aqui -, mas a publicação impressa é garantia de qualidade editorial? Todos os títulos lançados por pequenas, médias e grandes editoras são dignos de figurar entre os textos mais imprescindíveis de uma biblioteca? Se pensarmos ainda nas facilidades de edição que se tem hoje em dia, nas tiragens pagas pelo próprio autor, nas antologias custeadas por vários amadores (não uso o termo pejorativamente aqui) que querem ter o prazer de se verem publicados, então a garantia de qualidade é nenhuma. Nesse caso, penso eu, devemos parar de apontar apenas para o "grande mal" que os blogs causam à literatura pelo simples fato de publicar alguma coisa sem qualidade - repito, as editoras sempre fizeram isso. Não é verdade que o blog seja "uma espécie de terreno baldio em que se aceita entulho", Miguel.
Quando a obra de arte passou a ser reproduzida tecnicamente, Walter Benjamin não se ocupou em atacar esse novo tipo de fazer artístico, mas debruçou-se sobre o tema para melhor compreender a arte em sua nova figuração social. Com os blogs penso que devemos fazer a mesma coisa. Mais do que dizer que as grandes obras impressas, sejam de crítica, sejam de ficção, comparativamente aos blogs, são muito melhores, mais bem acabadas esteticamente etc., vale a pena refletir nas características inerentes ao blog e por que ele encontra tanta aceitação na literatura brasileira hoje. Lembremos que não são apenas amadores que mantêm blogs, mas nomes como Ana Paula Maia, Clarah Averbuck, Cecília Giannetti, Ivana Arruda Leite, Marcelino Freire e tantos outros nomes publicados em livro também se fazem presentes no espaço virtual. Por quê? Por que é tão comum, tanto em blogs quanto na prosa de ficção impressa, narradores em primeira pessoa? Teoricamente, como responder ao grande número de "eus" que narram suas vidas na contemporaneidade? Se o narrador não intercambia mais experiências, como pensou W. Benjamin, quais são as experiências narradas aqui, nos blogs, e em autores como Bernardo Carvalho, Silviano Santiago, Marcelo Mirisola, Miltom Hatoum, João Gilberto Noll? São experiências comuns?
Para finalizar, acredito que essa nova prática de labor literário tenha ainda muito que ser estudada e teorizada, não devemos, portanto, perder tempo discutindo que "tem muita porcaria sendo publicada na internet". Há quem goste de ler Paulo Coelho, há quem goste de ler autoajuda, há quem goste de ler Thalita Rebouças (todas obras impressas), do mesmo modo que há quem ouça funk, pagode, axé. O mercado apresenta obras de qualidade e obras de não tanta qualidade, cabe ao leitor, no caso da literatura, optar.

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