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terça-feira, 6 de setembro de 2011

A poesia e a crítica

Se não estou enganado, foi Baumgarten quem disse que gosto não se discute. Se assim é, inútil seriam as discussões sobre a qualidade estética ou não de um poema, por exemplo. Mesmo porque não se pode provar por A + B a beleza de um objeto, seja ele qual for. Aí entra toda a nossa subjetividade, que irá, no meu caso, preferir Bandeira a Drummond. Mas não posso dizer que Bandeira seja melhor sem que, prontamente, vários leitores de Drummond partam em sua defesa. E, empregados todos os argumentos em prol de um e de outro, quem é que vai dizer qual dos dois realmente é o melhor poeta? É possível tal comparação? Antonio Cícero caminhou nessa direção quando disse, em sua conferência A poesia e a crítica, na ABL, que quem ama um poema o ama porque, simplesmente, o poema lhe pertence. O leitor de poesia elege um poeta de sua predileção e pronto - gosto não se discute. Eu, por exemplo, apesar de reconhecer a importância de Mário de Andrade para a literatura brasileira, não consigo gostar de sua poesia. Tenho uma edição de suas poesias completas, mas, por mais que eu me esforce, não sinto nenhum prazer estético lendo o papa do nosso modernismo.
Para Antonio Cícero, a poesia e a crítica são inseparáveis porque, justamente, o leitor de poesia, ao preferir um poeta a outro, está exercendo uma atividade crítica. Pensando bem, a simples leitura de uma poesia já é uma leitura crítica no sentido de que o leitor irá ou não gostar do que leu, isto é, a leitura de poesia é crítica porque ela mexe com nossa subjetividade, com nossa reflexão e com nosso senso estético; ela é crítica porque, ao gostarmos ou não de um poema, estamos, naturalmente, sob influência de nossa avaliação, de nossa análise, de nosso discernimento.
Agora, se cada leitor é responsável por eleger seus poetas preferidos, afinal gosto não se discute, como é formado o cânone? Mário de Andrade faz parte do cânone, porém não me agrada; Lena Jesus Ponte não faz, mas é, a meu ver, uma excelente poeta. Como isso se dá? Quem é responsável por eleger os poetas que comporão o cânone? Para Antonio Cícero, são os próprios poetas que se canonizam devido a sua excelência. Essa resposta, se por um lado é boa, pois o pertencimento ao cânone se daria única e exclusivamente pela qualidade estética da poesia, sem critérios extrínsecos a ela, por outro, no entanto, para mim é insatisfatória, pois exclui a subjetividade desse processo de eleição dos escolhidos.
Falando sobre a atividade crítica inerente à leitura de poesia, Antonio Cícero, diferentemente do que apontou semana passada Jorge Fortuna, ao mencionar os blogs, não os tratou como um desserviço à crítica literária, mas, ao invés disso, chamou de crítico todos aqueles que, de uma forma ou de outra, explicitam suas opiniões sobre poesia, sejam eles amadores ou não, através de qualquer veículo de comunicação.
Para finalizar, um comentário que exalta a poesia: ela não serve para nada. Ora, mas se ela não serve para nada, por que lhe damos então importância? A resposta é simples: por causa de sua singularidade. Singularidade, aliás, que lhe será atribuída pelos leitores-críticos que a tomam como sua, comentou Cícero.

Um comentário:

  1. Poxa. Queria muito ter ido. Mas ter ido através de suas palavras (seu filtro intelectual) valeu MUITO a pena. abraço. saudade amigo.

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