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quarta-feira, 25 de julho de 2012

Confissões autoperformáticas de um sujeito fraturado e ignorante

Ignorante. Débil. Parvo. Este sou eu, proprietário deste blog, que não sei por que razão você visita. Talvez você, desavisadamente, tenha clicado em um link qualquer; ou o Google, sabe-se lá o motivo, tenha elencado meu blog numa lista de assuntos de teu interesse; ou você é uma pessoa curiosa. Independente do motivo, o que importa é que você está aqui e, por isso, resolvi me apresentar. Assim, caso seja sua primeira visita, poderá sair sem grandes traumas. Sou ignorante, mas educado. A ironia reside justamente no fato de eu, apesar da minha limitação intelectual, prezar bastante assuntos e temas que fogem da minha compreensão. Acho importante a leitura de filosofia, de literatura; acredito que a arte é uma forma de expressão que nos eleva; e que ela suscita questões fundamentais para o Homem, muitas das quais discutidas e rediscutidas desde sempre.
Mas eu não me reconheço como um ignorante há muito tempo. Até me achava um cadinho inteligente, capaz de refletir sobre temas complexos, sobre os quais tinha, inclusive, boas tiradas. Sim, durante algum tempo acreditei ser uma pessoa inteligente, modestamente, acima da média. Hoje, ficaria feliz se me apresentassem como mediano. Pelo menos assim não me reconheceria como burro, ignorante, conforme apresentação inicial nesta nossa conversa.
Resolvi fazer esta confissão porque este blog chama-se Identidade de um Eu, o que significa duas coisas: primeira, por ser um blog, isto é, um diário, deve conter a minha verdade e permanecer distante da mentira; segunda, a minha identidade necessita ser preservada, nem que seja a identidade de apenas um dos eus. E é este que se confessa um parvo sem eira nem beira.
Para seguir a trilha da verdade contida neste blog, descobri-me um ignóbil quando, com a melhor das intenções, resolvi ler Mímesis: desafio ao pensamento, de Luiz Costa Lima. Livro grosso, com mais de 400 páginas, com ele eu iria adquirir um conhecimento teórico-filosófico sobre a mímesis e tudo que advém com ela. Passearia pelo conceito de mímesis desde os gregos, passando por Descartes, Kant, Heidegger, Schopenhauer, Nietzsche, Freud, Deleuze, Foucault e outros. Poderia, com esta leitura de fôlego, agregar conhecimento e ter mais subsídios para discutir questões como o sujeito, a mímesis, a verdade, a ficção, a arte, enfim. 
Mas o que deveria ser uma solução, para quem acreditava que devemos estar sempre em busca do conhecimento, se mostrou um gradessíssimo problema quando, ainda no início do livro, me deparei com a realidade - eu não conseguia compreender o que Costa Lima tentava me dizer. Percebi que não possuía leituras suficientes dos filósofos abordados pelo autor e que sua teorização se demonstrava demasiada complexa. Afinal, que caminho epistemológico eu deveria seguir, ou melhor, qual era a argumentação de Costa Lima? Em que momentos ele discordava e em quais outros ele aproximava-se dos pensadores em questão?
Mas se me descobri um ignorante, igualmente me apresentei como um obstinado. Não desisti da leitura, levei-a até o fim, sublinhando, anotando, interrogando, fraturando-me. Acho que para ser minimamente capaz de entender este livro, precisaria relê-lo, trelê-lo e, depois, fazer um curso sobre o mesmo. Mas, amigo, caso você ainda não tenha desistido deste blog e continue a ler este ignorante, saiba que o problema não é do autor, tampouco do livro. O problema é exclusivamente meu, que sou meu próprio óbice. Talvez eu não seja um caso perdido porque consegui perceber que o livro é muito bom, pena que lido por alguém muito ruim. Mas você, leitor paciente, poderá tirar ótimo proveito desta leitura. E quiçá me ajudar posteriormente. Me tirar do limbo onde me encontro agora.
Foi o próprio Costa Lima, curiosamente, quem me estendeu a mão e sorriu com benevolência mediante minha ignorância confessa. Em mais de um trecho, ele queixa-se de sua incompetência filosófica, psicanalítica e de seu amadorismo em relação às artes plásticas. Nestes momentos, perdoem-me dizer, senti um nós se justapor ao meu eu. Pelo menos por segundos, senti-me próximo do eu autoral, capaz de entendê-lo e de me solidarizar. Por frações de segundos, nossas primeiras pessoas se deram as mãos e unificaram-se. Mesmo que, no caso dele, sua incompetência servisse apenas como uma espécie de modéstia, ou de retórica. Ou, ainda, como um salvo-conduto para transitar em seara alheia.
Infelizmente, sou incapaz de resenhar este livro como ele merece, daí confessar-me um ignorante, mesmo porque a leitura deste livro "ao leitor deixa a escolha entre sentir-se fascinado ou reconhecer-se um imbecil". Aqui, desculpo-me com Costa Lima e com Foucault, mas sinto fascínio e me reconheço um imbecil. As duas coisas, por que não? Se não sou mais um sujeito uno e solar, cartesiano, e me reconheço como um sujeito fraturado, cuja "experiência estética nos faz sentir nosso próprio estado", repito aqui para você, querido leitor, que sou um ilustre ignorante, afinal, se finjo, logo existo.


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