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domingo, 8 de julho de 2012

Crônica de um Pai de Terceira Viagem III

No consultório do Dr. Isaac Nepomuceno Insanus:

- Olá, meu jovem, quanto tempo!
- Estou mal, sucumbi.
- O que houve?
- Não dei conta.
- Desenvolva...
- O senhor sabe... duas crianças, ou melhor, duas pestes, uma mulher grávida, quer dizer, louca, e a perspectiva das coisas se agravarem quando a terceira peste nascer.
- Hum...
- Hum? É tudo isso que o senhor tem a dizer? Estou a base de ansiolíticos, e nem com eles consigo mais dormir.
- Como vai o trabalho?
- Pois é, não aguento mais minha tripla jornada! Não dá mais para trabalhar, cuidar de duas pestes e ainda bancar o psiquiatra de uma grávida cujos hormônios estão na Disneilândia. Isso quando ainda não preciso assumir as tarefas domésticas, lavar, passar, etc.
- Entendo...
- Ok, o senhor entende e? Vim em busca de socorro, preciso de soluções, não de compreensão. Estou a ponto de transpor a fronteira, enlouquecer definitivamente.
- O que tem feito de lazer?
- O que é isso mesmo?
- Aí está, meu jovem! Você não pode colocar-se nessa rotina estressante e não usufruir de um minuto sequer de lazer.
- Tá, mas o que eu faço?
- Em primeiro lugar, retome seus prazeres lúdicos, vá mais ao cinema, teatro, enfim, as coisas que você gosta de fazer e sempre fez. Dê um tempo para você mesmo. Vá jogar bola com os amigos.
- E as crianças?
- Ora, meu rapaz! Quando estiver com as crianças, junte-se a elas na bagunça. Não tente ser um pai chato que só diz não. Imponha limites, mas, na maior parte do tempo, seja criança junto com elas, vai te fazer muito bem.
- Sério?
- Seriíssimo. Dê vazão para a sua criança interior, brinque com elas, esqueça um pouco as responsabilidades.
- Ok. Mas e quanto àquela louca barriguda lá de casa?
- Nesse caso o buraco é mais embaixo.
- Vai dizer isso pra mim??
- Quanto tempo falta para a bebê nascer?
- Pouco mais de um mês.
- Façamos o seguinte: concorde com tudo o que ela disser...
- Mas, Dr. Insanus...
- ... afinal, com loucos costumamos sempre concordar, não é mesmo, meu jovem [e uma gargalhada se fez ouvir no consultório, depois da qual precisei concordar].
- Isso vai resolver meu problema?
- Só isso não. Leve-a para sair também. Haverá aqueles momentos que serão só seus, mas acrescente alguns momentos para o casal, e, se os hormônios se manifestarem, faça a mesma coisa.
- O quê?
- Alie-se. Se não podemos vencê-los, juntamo-nos a eles [mais risos].
- Como assim?
- Comporte-se igualmente, como um louco desequilibrado e perigoso.
- Isso vai funcionar?
- Acabou seu tempo, meu jovem, volte mês que vem com boas notícias.
- [!]

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