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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Minhas confissões circulares

Fui presenteado com meu primeiro diário aos 8 anos de idade, mais ou menos. Minha mãe me dera um depois que eu, através de seu exemplo, me entusiasmei em escrever também. Desde sempre minha mãe habituou-se a escrever sua vida, seus pensamentos, suas angústias e alegrias. E os escrevia à caneta, à moda antiga. E ai de quem pensasse em se aproximar deles para uma espiadinha. Seus escritos eram secretíssimos, e, sempre que eu pedia para lê-los, ela me dizia que somente após sua morte. Ela confiava ao diário, enfim, aquilo que não podia ser dividido com ninguém. E foi mais ou menos isso que ela me disse quando me deu meu primeiro diário. Mas o que eu entendi foi que aquela agenda servia para que eu enumerasse minhas atividades cotidianas. E assim comecei a relacioná-las: "Brinquei. Fui para a escola. Fiz dever de casa. Vi televisão". No dia seguinte, sem grandes variações, registrava a mesma coisa. Após uma semana, desisti do empreendimento e abandonei o diário, ainda sem entender quanta coisa minha mãe escrevia.
Muitos anos depois, no meu segundo ano de mestrado, decidi criar um diário acadêmico, que se preocuparia com minhas atividades acadêmicas, ligadas direta ou indiretamente ao meu projeto. Mas o escrevia no computador, muito mais rápido e prático. Mas, diferentemente de minha mãe, tinha a intenção de publicá-lo. Quando disse isso a minha amiga Mariá, ela deu um muxoxo e comentou que ninguém se interessaria em ler sobre tais atividades; se eu quisesse leitores, deveria escrever sobre minha vida sexual. Refleti e ponderei que ela tinha razão, mas, como sou teimoso, dei prosseguimento ao meu diário acadêmico - ainda inédito, pois não encontro nem tempo nem entusiasmo para trabalhar em cima dele e torná-lo atrativo o suficiente para uma possível edição. Mesmo porque Mariá deve ter razão...
Defendido o mestrado, meu diário virtualizou-se e transformou-se neste blog. E aqui procuro registrar, diletantemente, minhas atividades culturais, sejam elas quais forem. Procuro exercitar, dessa forma, minha escrita. Escrevo, portanto, resenhas de livros que li, de filmes, peças ou qualquer outro evento que assisti, além de colocar algum texto meu com veleidades literárias, seja em prosa ou em verso. Acho que não preciso dizer o óbvio, que senti uma grande diferença entre escrever um diário para mim mesmo, sem leitores, e escrever aqui na internet, onde sei lá quem irá ler e, (!) comentar. Mas mesmo assim vim vindo até o dia em que me dei conta de que havia coisas sobre as quais eu não tinha nada o que dizer. Às vezes assistia a um filme que, por mais que eu tivesse gostado, não me suscitava nenhum tipo de interesse em transformar aquela vivência em texto. Acontece que sou por demais metódico e, então, deveria solucionar o impasse. Assim, em outubro de 2010, criei meu twitter, que registraria os casos de mutismo, por assim dizer. Colocava lá o que tinha feito, sem desenvolver, porém. Há quase dois anos que blog e twitter convivem harmonicamente.
Obedecendo a um critério puramente cronológico, devo dizer que em outubro de 2011 criei um outro blog, ao qual não dou nenhuma importância, espécie de filho bastardo, e que, recentemente, me rendi ao facebook, aliando-me à multidão que diariamente atualiza sua rotina - ou inventa uma, tanto faz. Mas o que importa e é o motivo deste post é que hoje aconteceu um episódio interessantíssimo, pelo menos para mim, que não pode ser compartilhado com ninguém. E eis que meu eu metódico, inconformado com o silêncio, aflito com o segredo, lembrou-se do diário. Sim! Por que não? Posso voltar ao diário e anotar o que eu quiser, secretamente, sem que ninguém leia, compartilhe ou curta. Me pergunto por que maldita razão precisei escrever essas minhas confissões circulares para dizer que iniciei com um diário e talvez a ele eu retorne. Para constatar que há coisas que interessam somente a mim, à minha individualidade, ao meu eu. Mas eu sou muitos e, assim, não poderia ser nós? E sendo nós seria justo manter só comigo o segredo? Vou pensar no assunto e decidir se vamos nos interessar.

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