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sábado, 9 de outubro de 2010

Exercício insone

Parecia hipnotizado pelo belo par de seios. Encarava-os ostensivamente, sem receio de parecer indiscreto ou grosseiro. Não conseguia, desde cedo, pensar em qualquer outra coisa que não fosse sexo. E agora, no meio da noite, estava diante do objeto de seu desejo. A morena tirava-lhe do sério. E ela sabia disso. Ela tinha plena consciência do poder que exercia sobre ele, sabia que, bastava um gesto seu, para a noite terminar na cama. Vidrado no decote, ele não percebia os sorrisos e os trejeitos dela. Talvez se os visse, criasse coragem e fosse lá falar com ela. Já fizera isso outras vezes, já conseguira comer muitas mulheres em situações similares, com seu jeito peculiar de rapaz ao mesmo tempo respeitador e atrevido. Mas hoje era diferente. Hoje ele se deixou hipnotizar, perdeu sua visão periférica e só mirava o decote. A morena, por sua vez, divertia-se com a falta de jeito dele. E provocava. Erguia lentamente a tulipa de chope, deixava uma gota pingar sobre seu peito, contraía a musculatura e bebia com prazer a bebida gelada. Seu corpo sempre quente, quentíssimo a essa altura. Durante muito tempo ela se privou desse tipo de jogo erótico. Sentia-se reprimida, não queria ter fama de fácil. Ele ainda sem coragem de agir. Não conseguia sair do pensamento e partir para a ação. Não se lembrava de ficar paralisado dessa maneira antes. Para ela, a sexualidade há muito silenciada agora ganhava ousadia. Por que deveria permancer reprimindo-se, questionava-se, se todos, em todos os cantos, só falavam de sexo? A proliferação discursiva certamente trazia benefícios para os locutores, mas e ela? Não era muito de falar sobre o assunto, só com uma ou duas amigas mais chegadas, com todo o recato próprio de mulheres educadas para se assujeitarem, mas também deveria permanecer alheia aos seus desejos? Até quando? Por que não levantar-se, caminhar decidida até o rapaz atônito e incrédulo, inclinar-se sobre ele e efetivar todo o seu poder? Poder de gerar a vida. E de gerir também. Levantou-se, mas ato contínuo acovardou-se e foi ao toalete. Quando finalmente voltou, ele não estava mais lá.

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