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domingo, 10 de outubro de 2010

Metablog

Quando criei este blog, a ideia era a de dar continuidade ao Diário de um eu, onde eu registrava o making-off da minha dissertação de mestrado, anotando minhas leituras, tecendo comentários diversos sobre os textos lidos e a minha participação acadêmica, enfim, eternizando, de alguma maneira, aquele momento, por vezes preocupado em ser fiel aos fatos vividos, por vezes me distanciando deliberadamente deles, exercitando minha imaginação. Essencialmente seria isso o que eu faria aqui também. Mas aí aparece um probleminha. Meu blog, ao contrário do diário, tem leitores, mesmo que poucos, e isso faz uma enorme diferença. A consciência de que serei lido serve como um baita censor para mim. Aqui tenho pudores que não existiam lá. É curiosa essa pudicícia uma vez que a ideia inicial do diário era a de publicá-lo quando da defesa da dissertação - o que ainda não foi feito, diga-se de passagem. Mas mesmo não sendo um diário clássico, secreto, sua publicação se daria após ele concluído, o que não acontece aqui, nessa escrita seriada que conta com possíveis intervenções de leitores. A resposta imediata e plural que o blog oferece é por um lado estimulante, pois dialógica, mas, por outro, é cerceadora, pois me aponta as críticas ainda por virem e evidencia minha insegurança. Se o diário for publicado, e lido, eu não terei nenhuma resposta dos leitores - salvo alguma possível resenha que alguém resolva escrever sobre ele. Mas o blog é como ter incontáveis olhos me espionando - e me julgando -, o que me faz parecer um prisioneiro do panótico.
Pensei nessas coisas todas porque acabei de ler Ficção impura, da Therezinha Barbieri, e não tenho simplesmente nada a dizer sobre o livro. Nem uma linha. Mas gostaria de dizer que o li, de maneira a mapear minhas leituras de algum modo. Estou pronto a concordar com a Mariah que isso não é de interesse de ninguém e que, se eu quiser angariar leitores, deveria escrever sobre minha vida sexual. Acontece que tenho toc e agora preciso dar um jeito de registrar isso de alguma maneira, se não enlouqueço, fazer o quê? Então, pensei, não posso simplesmente colocar no blog, para os possíveis olhos que vigiam, que li o livro sem um texto minimamente interessante que o resenhe ou invente alguma história em torno dessa leitura. O que fazer? E eis que me ocorreu que preciso me virtualizar mais, o blog não é mais resposta para minhas necessidades, ele precisa de um padrão de qualidade (!), precisa cativar os leitores, precisa ser literatura (?).
Enfim, a solução encontrada foi a de me embrenhar no mundo virtual e aderir ao Twitter. Em poucas linhas poderia alcançar o mapeamento desejado e dizer "li Ficção impura, da Therezinha Barbieri". Não que isso tenha alguma relevância, acreditem, não tem. Dizer que li este livro serve apenas para acalmar meu espírito obsessivo e compulsivo. Agora posso mais facilmente exibir-me academicamente, respeitando o espaço deste blog para o que realmente interessa, eu acho...
Ainda sou um iniciante internáutico, o que faz de mim quase uma aberração, e só o fato de eu postar esses rascunhos aqui já é uma vitória, pois sempre escondi meus escritos. Pouco a pouco vou conseguindo achar o tom do blog, como agora terei que achar também o do meu twitter. Correndo o risco de ser repetitivo, é estranha essa coisa de escrever e postar imediatamente, sem que o texto amadureça e adquira consistência. Postar sem reescrever, sem trabalhar, cortar, copydeskar tem sido uma tarefa corajosa. Mas isso me dá também, por outro lado, uma espécie de credencial, no sentido de que poderia argumentar que se o texto não é bom é porque foi escrito "de qualquer jeito". Não conheço ninguém que tenha entrado em crise existencial por conta de um blog, e aí forçosamente me lembro novamente da Mariah (por onde anda sumida?), sempre a rir-de de minhas crises. Bom, vou ficando por aqui, tentando não me preocupar muito, tentando não me levar muito a sério, afinal um post tende a ser esquecido no minuto seguinte da leitura nesse mundo de muitas informações que nos fazem ficar cegos de uma cegueira branca, como em Ensaio sobre a cegueira.

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