Pesquisar neste blog

domingo, 7 de agosto de 2011

Ilusões óticas

Um homem cego volta a enxergar e não consegue se habituar com o que passa a ver; um segurança de shopping center se envolve com uma mulher que havia sido flagrada roubando uma loja; um funcionário exemplar é demitido da empresa onde trabalhava há anos; e uma mulher feia e insatisfeita com seus seios pequenos quer fazer um implante para se tornar mais atraente para os homens - as histórias desses quatro personagens, que não compreendem suas realidades e que se entrelaçam de alguma forma, estão em Ilusões Óticas, de Cristián Jiménez, em cartaz. Este é um excelente filme em potencial, mas o expectador pode sair do cinema com a impressão de que acabou de assistir a um filme demasiadamente monótono. As quatro histórias dos personagens poderiam ser muito mais bem exploradas e aprofundadas, principalmente a de Juan, que ficou cego aos três anos de idade e, após uma cirurgia de córnea, volta a (pouco) enxergar. Juan não é mais pertencente ao universo dos cegos - a cena em que ele é retirado de uma excursão patrocinada com dinheiro público para os deficientes visuais é exemplar -, tampouco se sente inserido no mundo das imagens, afinal, como diz, é fácil ser cego e o mundo é feio. Não se trata de uma cegueira branca, como a de Ensaio sobre a cegueira, de Saramago, mas, como bem lembrou Elisa, o mito da caverna, de Platão, poderia ser evocado. O drama de Juan, no filme, todavia, cede espaço para que o expectador entre em contato com as demais histórias, mas nenhuma delas com aprofundamento. Talvez daí o título do filme, uma vez que o expectador não tem clareza sobre os infortúnios de nenhum dos personagens. É como se uma película dificultasse uma visão nítida sobre cada um dos enredos que se cruzam, aproximando o expectador da angústia de Juan, nem mais cego, muito menos apto a enxergar. Nesse sentido, a monotonia angustiante do filme teria sua função e daria a Ilusões Óticas um novo olhar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário