Pesquisar neste blog

domingo, 30 de outubro de 2011

Um conto chinês

Qual o sentido da vida? Há sentido na vida? Acreditando que não, depois de servir na Guerra das Malvinas, Roberto, personagem de Ricardo Darin, protagonista de Um conto chinês, filme de Sebastián Borensztein, inicia uma coleção de recortes de notícias estranhas de jornal - notícias que comprovariam a falta de sentido da vida. Dentre elas, a mais do que extraordinária notícia de uma vaca que, caindo de um avião, atinge em cheio uma embarcação. E esta notícia, por incrível que pareça, é verídica.
Esta é, aliás, a cena inicial do filme, apenas o primeiro dos absurdos que começarão a interferir na rotina de Roberto, um homem bastante sistemático, neurótico e mal-humorado. Sua rotina, que nunca sofre qualquer tipo de ameaça, sempre a mesma, começa a se modificar quando Jun (Ignacio Huang) - justamente o chinês que viu uma vaca cair sobre si e sua noiva, matando-a - é assaltado na Argentina e o destino o coloca na vida de Roberto.
A convivência forçada de Jun e Roberto, que não conseguem se entender por conta da barreira linguística - Jun não fala uma única palavra de espanhol -, mostra aos espectadores como a rotina monótona de um homem cheio de manias pode ser engraçada. Pois a coprodução argentina e espanhola é uma comédia bastante divertida, capaz de entreter com inteligência o público.
Do mesmo modo que Roberto coleciona notícias absurdas por evidenciarem a falta de sentido da vida, podemos questionar quão sem sentido é sua vida, repetitiva e bastante previsível, incapaz de se abrir para o amor que lhe dedica Mari (Muriel Santa Ana). Apesar de todos os sinais que ela lhe dá, inclusive uma declaração mais do que explícita, Roberto se mostra inflexível, como se não conseguisse se desvencilhar de seus fantasmas e encarar uma possível felicidade numa vida longe de sua rotina.
Roberto precisará vivenciar e superar a barreira linguística entre si e Jun e sua forçada convivência, passando por situações engraçadas porque inusitadas, para se dar conta de que, dentre todas as notícias absurdas colecionadas, a que mais poderia lhe afligir seria a de uma vida feliz jogada fora. Uma vaca nao cai do céu todo dia, um chinês monoglota e perdido não atravessa nosso caminho todo dia, e o amor não bate à porta de Roberto todo dia. Só após perceber isso, ele conseguirá sair de sua "prisão" e se abrir para a possibilidade que Mari lhe oferecia.
Um conto chinês é um bom divertimento para o público, que conseguirá dar boas gargalhadas e sair do cinema com a certeza de que assistiu a um filme que reúne bons atores, boa direção e, sobretudo, uma ótima história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário