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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Carta aberta para minha mãe

Pois é, mãe, estou com muita saudade de você. Hoje ela bateu quando vi no Facebook - aquele negócio na internet de que você não gostava e nem queria ouvir falar - vários comentários sobre o dia dos avós. E aí pensei que minhas filhas perderam a melhor avó do mundo. Aquela que fazia todas as vontades das netas, mesmo nos contrariando. Pois é, mãe, não tive a sabedoria necessária para entender o que todo mundo sempre falou e continuará falando, que os avós servem para estragar os netos, para paparicar, para mimar e, sobretudo, para amar muito. Mas eu, chato pra caramba, acho que por ter vivido torto minha vida inteira, ficava com medo de que os excessos pudessem prejudicar minhas princesinhas no futuro. É que eu, idiota, preocupado em policiar os avós, esquecia que era a minha função não permitir que elas também entortassem - e, caso entortassem, seria por livre escolha delas, só delas. Eu continuaria aqui amando muito elas, como sempre fui amado, mesmo quando fazia as maiores merdas do mundo - e não foram poucas. Em suma, os avós deseducam para os pais continuarem a árdua tarefa de educar. E deve ser muito bom ser avó para deseducar, para só dizer sim, para, no final das contas, ser avó.
A Maria Cecília deve nascer a qualquer momento, já está tudo pronto esperando por ela. Na verdade falta só o berço, que chega por esses dias. Ela não terá o privilégio das irmãs de te conhecer, mas será a única com o teu nome. E nós não permitiremos que ela não a conheça. As suas telas continuam nas paredes, as suas fotos também e, mais do que tudo, a lembrança e o amor que todos ainda temos.
Há três dias atrás, voltando do parquinho com as crianças, a Maria Antônia lembrou muito de você. Ficou tristinha, com saudade, mas sabe como é criança, logo passou para outro assunto. A Maria Eugênia, que era mais colada contigo, evita tocar no assunto, acho que é para, de alguma maneira, evitar o contato com a dor da perda. Porque dói muito, mãe.
Mas não se preocupe, tanto a Maria Eugênia quanto a Maria Antônia estão ótimas. Lindas, bagunceiras, inteligentes, espertas, engraçadas. Suas netas, não dava pra ser diferente, né? Ah, também são teimosas... mas acho que isso puxaram mais de mim.
Elisa está doida para parir logo, não está se aguentando, coitada. Papai e Gustavo estão bem, só com muita saudade.
Agora fico me lembrando de todas as coisas que não fizemos juntos. Acho que nós dois perdemos tempo demais com coisas desimportantes e aí esquecemos as coisas que realmente importam. Nunca comemos um japonês juntos, quase nunca íamos a uma exposição juntos, para você poder me ensinar alguma coisa sobre artes plásticas... Havia tanta afinidade entre nós e a gente sempre se manteve distante, que idiotice, né? A gente podia ter tido ótimas conversas sobre literatura, artes plásticas, filosofia. A gente podia também ter falado muita besteira juntos, que é bem mais interessante. Quanta risada perdemos... A vida é tão curta e tem tanta coisa para se viver. Nunca fomos à Europa juntos, olha que absurdo!!
Mãe, vou ficando por aqui. Feliz dia dos avós para você. Te amo muito, sempre amei e sempre amarei. Desculpa pelas minhas cagadas ao longo da vida, mas... você sabe... Até breve.

5 comentários:

  1. Há um livro, um de meus prediletos, chama-se Cisnes Selvagens. Este livro transforma a minha vida cada vez que eu o releio. E um dos capítulos tem o seguinte título: Para você, com uma vida inteira de atraso.
    É doloroso, mas é real. E você entenderia o paralelo se conhecesse a história.
    Aliás, você devia mesmo le-lo.

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  2. Lindo de doer.
    Beleza dói?
    Chorei, B.
    Meu beijabraço.

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  3. Difícil não conter as lágrimas. Impossível!

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