Pesquisar neste blog

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A filosofia da ficção de Vilém Flusser: um tapa na cara

Organizado pelo Gustavo Bernardo, o simpósio internacional A filosofia da ficção de Vilém Flusser acontece no teatro Noel Rosa, na UERJ. Não compareci na sexta-feira, mas estive presente hoje pela manhã ouvindo com interesse crescente o que se dizia à medida que percebia que as ideias do filósofo tcheco-brasileiro me serão caras para a minha tese de doutorado, lamentando nunca ter lido sequer uma linha sua e ansioso por enfim lê-las. Quando o filólogo alemão Markus Schäffauer, da universidade de Hamburgo, em seu trabalho intitulado "Além da ficção", iniciou sua apresentação, foi, para mim, como ter levado um tapa na cara. O interesse que sentia transformou-se em estupefação, e me perguntava por onde eu andara no mestrado que nunca tinha lido nada de Flusser. Explico.

Schäffauer iniciou sua fala queixando-se dos críticos contemporâneos que se esforçam em distinguir realidade de ficção. Perguntava o alemão por que os críticos tentam obstinadamente diferenciar realidade de ficção se os próprios artistas esforçam-se por aproximá-las. E complementa, citando Flusser, afirmando que os conceitos de realidade e ficção se equivaleriam, daí a improcedência em distingui-los. Ora, na minha dissertação de mestrado gastei algumas páginas para provar que na literatura brasileira contemporânea é muito comum uma hibridização do texto fruto da mescla justamente entre realidade e ficção. Seria essa indecidibilidade do leitor em assegurar seus limites uma das marcas da autoficção. Não quero me desdizer aqui, continuo convicto do que escrevi e defendi no mestrado, mas, a partir da fala do alemão, questiono a importância que isso tem.

Talvez mais do que afirmar que, por exemplo, em Nove noites, a construção do mito do escritor, de sua invenção de si, se dá na interseção de realidade e ficção, seja mais profícuo abstermo-nos dessa discussão e partirmos para um debate em torno da "vampirização" - para utilizar um termo de Flusser - do autor hoje. Em linhas bastante sintéticas, seria a transformação de uma arte exteriorizante em uma arte interiorizante, isto é, tentar ser imortal não nas obras, mas na memória dos outros. Como disse, ainda não tenho leitura suficiente de Flusser para aprofundar essa discussão no momento, mas fica aqui uma indicação de caminho a seguir.

Desconfio que meu projeto de doutorado sofrerá algumas modificações. Já vinha me mostrando insatisfeito com a primeira parte do projeto, que visava a discussão da autoficcionalização comum nos blogs. Parece ser um tanto óbvia a construção de um alter ego nos narradores blogueiros, por isso acho que posso abstrair essa questão e partir para uma discussão mais profunda, menos dejà vu.

***

Nota confessional: Comecei o curso do Mario Bruno, como ouvinte, hoje, me sentindo um penetra da festa alheia. A minha sorte mudou ao conhecer a Catarina, minha mais nova amiga, que está na mesma situação que eu - não somos mestrandos nem doutorandos, não temos vínculo com nenhuma instituição, mas não querermos sair da brincadeira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário