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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Frases impensadas, impactantes e inverdadeiras

Sou um cara de frases ditas sem pensar. Sempre fui assim. Não sei por quê. Mas quando me dava conta já tinha soltado uma pérola que, na maioria das vezes, pra não dizer sempre, não correspondia exatamente àquilo que eu pensava e que eu queria realmente dizer. Acho que nunca fui muito bom orador, sempre tímido, com péssima dicção herdada de meu pai. Sou um homem de poucas palavras e, apesar disso, o rei das gafes. A prudência me faz calar. Em boca fechada não entra mosca. O problema é quando resolvo falar. A fala é traiçoeira, terreno incerto, volátil, efêmero, cruel. Por isso tudo e algo mais prefiro escrever. Não que eu escreva bem, não é o caso, tenho consciência disso. Escrever é, para mim, a tarefa mais difícil do mundo. Tenho dificuldades em me expressar por escrito e oralmente. A escolha em fazer Letras deve ter sido uma escolha autopunitiva. Freud explica. Mas a vantagem do texto escrito, para mim, é que ele me dá a chance do silêncio. Antes de mostrar um texto para alguém - exercício recente neste blog -, leio, releio e treleio o que escrevi. Se finalmente opto por mostrar, estou "seguro" que nada comprometor irá me atraiçoar. É claro que essa segurança inexiste e, no final das contas, sempre me arrependo. O texto escrito, no entanto, tem um predicado mais terrível. Ele documenta o que não deveria ter sido dito. Ele é prova e eu sou réu. Como ainda não me transformei num ermitão, como ainda mantenho, a duras penas, um convívio social, e como, sadicamente, tenho propensão para as letras, aqui estou escrevendo sobre a dificuldade de escrever, de falar, de comunicar, de dizer. Eu odeio blogs! Esta foi a mais recente frase dita sem pensar, a mais recente sentença impactante que eu proferi. Infelizmente não será a última. Foi para o Carlos Eduardo que eu disse essa preciosidade, nos minutos que antecediam a aula do Roberto Acízelo. Por que eu disse isso? Primeiro porque, ao mesmo tempo que eu não gosto de falar, eu odeio o silêncio. Ele me é constrangedor. O silêncio me obriga a correr para as palavras numa atitude suicida, incontornável, definitiva. Antes de uma aula de doutorado, natural que os amigos conversem sobre suas pesquisas, eu sei. E foi aí que se criou a armadilha. Todos sabem que meu projeto é sobre blogs. Por essa razão resolvi aderir à turma dos blogueiros. Preciso me familiarizar com o computador. Com a internet. Devo dizer que se por um lado as palavras me martirizam, por outro elas me fetichizam. As palavras me fazem leitor. Leio e amo ler. Não vivo sem esse expediente. Preciso ler. A leitura é tudo para mim. Não sou daqueles eus que leem de tudo. Quando falo em leitura, falo de literatura. Ela me basta. Ela me alivia de mim mesmo. Me transporta. Me acalenta. Mas ainda não tenho um hábito constituído de leitura de blogs, meu objeto de estudo. Apenas uma dificuldade a ser vencida. Também não tinha o hábito de acordar cedo. Aí tive filhas... Não tinha o hábito de ler blogs. Aí fiz o meu. Acredito que os blogs precisam e devem ser estudados mais sistematicamente como nova ferramenta de labor e experimentação literária. Acredito também que eles possuem características importantes, do mesmo modo que um tipo de texto que nem sempre me agrada. Mas isso não faz com que eu os odeie, Carlos. Não. Não os odeio. Aquilo foi dito na sala por um eu que nunca soube se portar com a palavra. Que sempre sofreu com a força do verbo. Que desconhece a oratória. Um eu angustiado entre o silêncio e a voz, indeciso de como e de quê falar. Mas ao mesmo tempo um eu que necessita ser lido.

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