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terça-feira, 31 de agosto de 2010
sábado, 28 de agosto de 2010
Recado
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Vida, minha vida
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Umas outras realidades alheias
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Eus
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Um pouco menos ignorante
sábado, 14 de agosto de 2010
Dois anjinhos
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
A vez do leitor
Bernardo Carvalho uma vez declarou em entrevista que a motivação para o seu romance Nove noites surgiu do anseio dos leitores por histórias baseadas em fatos reais. Pensando no anseio do leitor, o autor escreveu seu romance misturando realidade e ficção com uma dose de referências autobiográficas na construção de seu narrador, de maneira a saciar o desejo do público. Essa realidade no ambiente ficcional é apenas aparente, no entanto. A referência a Nove noites, aqui, serve para dizer que se por um lado o leitor tem papel essencial para a realização da obra, por outro, na análise do romance, ele assume função coadjuvante. A crítica, ao refletir sobre o romance, se ateve ao aspecto autoficcional, discutindo os meandros autorais na desestabilização da certeza do leitor sobre as referências autobiográficas. É acertado dizer que a estética autoficcional só encontra a sua plenitude com a aceitação do leitor no jogo de esconde, mas, mesmo assim, ele, na análise crítica da obra, fica em segundo plano - os holofotes incidiam sobre o autor.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Frases impensadas, impactantes e inverdadeiras
Sou um cara de frases ditas sem pensar. Sempre fui assim. Não sei por quê. Mas quando me dava conta já tinha soltado uma pérola que, na maioria das vezes, pra não dizer sempre, não correspondia exatamente àquilo que eu pensava e que eu queria realmente dizer. Acho que nunca fui muito bom orador, sempre tímido, com péssima dicção herdada de meu pai. Sou um homem de poucas palavras e, apesar disso, o rei das gafes. A prudência me faz calar. Em boca fechada não entra mosca. O problema é quando resolvo falar. A fala é traiçoeira, terreno incerto, volátil, efêmero, cruel. Por isso tudo e algo mais prefiro escrever. Não que eu escreva bem, não é o caso, tenho consciência disso. Escrever é, para mim, a tarefa mais difícil do mundo. Tenho dificuldades em me expressar por escrito e oralmente. A escolha em fazer Letras deve ter sido uma escolha autopunitiva. Freud explica. Mas a vantagem do texto escrito, para mim, é que ele me dá a chance do silêncio. Antes de mostrar um texto para alguém - exercício recente neste blog -, leio, releio e treleio o que escrevi. Se finalmente opto por mostrar, estou "seguro" que nada comprometor irá me atraiçoar. É claro que essa segurança inexiste e, no final das contas, sempre me arrependo. O texto escrito, no entanto, tem um predicado mais terrível. Ele documenta o que não deveria ter sido dito. Ele é prova e eu sou réu. Como ainda não me transformei num ermitão, como ainda mantenho, a duras penas, um convívio social, e como, sadicamente, tenho propensão para as letras, aqui estou escrevendo sobre a dificuldade de escrever, de falar, de comunicar, de dizer. Eu odeio blogs! Esta foi a mais recente frase dita sem pensar, a mais recente sentença impactante que eu proferi. Infelizmente não será a última. Foi para o Carlos Eduardo que eu disse essa preciosidade, nos minutos que antecediam a aula do Roberto Acízelo. Por que eu disse isso? Primeiro porque, ao mesmo tempo que eu não gosto de falar, eu odeio o silêncio. Ele me é constrangedor. O silêncio me obriga a correr para as palavras numa atitude suicida, incontornável, definitiva. Antes de uma aula de doutorado, natural que os amigos conversem sobre suas pesquisas, eu sei. E foi aí que se criou a armadilha. Todos sabem que meu projeto é sobre blogs. Por essa razão resolvi aderir à turma dos blogueiros. Preciso me familiarizar com o computador. Com a internet. Devo dizer que se por um lado as palavras me martirizam, por outro elas me fetichizam. As palavras me fazem leitor. Leio e amo ler. Não vivo sem esse expediente. Preciso ler. A leitura é tudo para mim. Não sou daqueles eus que leem de tudo. Quando falo em leitura, falo de literatura. Ela me basta. Ela me alivia de mim mesmo. Me transporta. Me acalenta. Mas ainda não tenho um hábito constituído de leitura de blogs, meu objeto de estudo. Apenas uma dificuldade a ser vencida. Também não tinha o hábito de acordar cedo. Aí tive filhas... Não tinha o hábito de ler blogs. Aí fiz o meu. Acredito que os blogs precisam e devem ser estudados mais sistematicamente como nova ferramenta de labor e experimentação literária. Acredito também que eles possuem características importantes, do mesmo modo que um tipo de texto que nem sempre me agrada. Mas isso não faz com que eu os odeie, Carlos. Não. Não os odeio. Aquilo foi dito na sala por um eu que nunca soube se portar com a palavra. Que sempre sofreu com a força do verbo. Que desconhece a oratória. Um eu angustiado entre o silêncio e a voz, indeciso de como e de quê falar. Mas ao mesmo tempo um eu que necessita ser lido.
Continuemos, pois
O simpósio Flusser in Rio foi encerrado com chave de ouro nesta tarde. A fala do Cláudio Castro Filho - Modernidade e estética fenomenológica em Vilém Flusser - teria sido o ponto alto da tarde não fosse a roubada de cena do Gustavo Bernardo, que fechou os trabalhos. Com uma camiseta verde com um ponto de interrogação preto desenhado na frente, ele "limitou-se" a ler um texto seu previamente dado aos participantes no Caderno flusseriano, uma brochura que continha, além do texto do organizador do evento, mais cinco ensaios escritos pelos monitores, que imagino serem alunos do Gustavo.
Isso não seria nada demais, vocês hão de concordar. Por que a leitura de um texto, de conhecimento prévio dos participantes, suscitaria algum alvoroço? Não foi o texto, no entanto, que tornou o desfecho do simpósio sensacional. Foi a leitura. Em pé, com a interrogação estampada na camisa diante de todos, Gustavo mal conseguia ler, a voz embargada pela emoção, a respiração ofegante, alguns segundos mais extensos para controlar o choro iminente. Particularmente, também me emocionei, e desconfio que todos os presentes se contagiaram com a emoção do Gustavo.
Nesse momento refleti que se um evento acadêmico consegue despertar, num acadêmico, tamanha emoção, nada está perdido e podemos e devemos seguir em frente. O texto em si é um bom texto, mas insuficiente para ocasionar tal comoção em alguém que não estivesse, como o Gustavo, envolvido diretamente com a organização e com os estudos em torno de Flusser. Ele procurou escrever uma ficção para homenagear o homem-rio, que não permite "que ninguém mergulhe duas vezes nas suas palavras". A academia se mostrou hoje um espaço onde homens ainda se emocionam, ainda carregam a emoção à flor da pele, ainda se mostram vulneráveis e... humanos. Continuemos, pois.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
A filosofia da ficção de Vilém Flusser: um tapa na cara
Organizado pelo Gustavo Bernardo, o simpósio internacional A filosofia da ficção de Vilém Flusser acontece no teatro Noel Rosa, na UERJ. Não compareci na sexta-feira, mas estive presente hoje pela manhã ouvindo com interesse crescente o que se dizia à medida que percebia que as ideias do filósofo tcheco-brasileiro me serão caras para a minha tese de doutorado, lamentando nunca ter lido sequer uma linha sua e ansioso por enfim lê-las. Quando o filólogo alemão Markus Schäffauer, da universidade de Hamburgo, em seu trabalho intitulado "Além da ficção", iniciou sua apresentação, foi, para mim, como ter levado um tapa na cara. O interesse que sentia transformou-se em estupefação, e me perguntava por onde eu andara no mestrado que nunca tinha lido nada de Flusser. Explico.Schäffauer iniciou sua fala queixando-se dos críticos contemporâneos que se esforçam em distinguir realidade de ficção. Perguntava o alemão por que os críticos tentam obstinadamente diferenciar realidade de ficção se os próprios artistas esforçam-se por aproximá-las. E complementa, citando Flusser, afirmando que os conceitos de realidade e ficção se equivaleriam, daí a improcedência em distingui-los. Ora, na minha dissertação de mestrado gastei algumas páginas para provar que na literatura brasileira contemporânea é muito comum uma hibridização do texto fruto da mescla justamente entre realidade e ficção. Seria essa indecidibilidade do leitor em assegurar seus limites uma das marcas da autoficção. Não quero me desdizer aqui, continuo convicto do que escrevi e defendi no mestrado, mas, a partir da fala do alemão, questiono a importância que isso tem.
Talvez mais do que afirmar que, por exemplo, em Nove noites, a construção do mito do escritor, de sua invenção de si, se dá na interseção de realidade e ficção, seja mais profícuo abstermo-nos dessa discussão e partirmos para um debate em torno da "vampirização" - para utilizar um termo de Flusser - do autor hoje. Em linhas bastante sintéticas, seria a transformação de uma arte exteriorizante em uma arte interiorizante, isto é, tentar ser imortal não nas obras, mas na memória dos outros. Como disse, ainda não tenho leitura suficiente de Flusser para aprofundar essa discussão no momento, mas fica aqui uma indicação de caminho a seguir.
Desconfio que meu projeto de doutorado sofrerá algumas modificações. Já vinha me mostrando insatisfeito com a primeira parte do projeto, que visava a discussão da autoficcionalização comum nos blogs. Parece ser um tanto óbvia a construção de um alter ego nos narradores blogueiros, por isso acho que posso abstrair essa questão e partir para uma discussão mais profunda, menos dejà vu.
***
Nota confessional: Comecei o curso do Mario Bruno, como ouvinte, hoje, me sentindo um penetra da festa alheia. A minha sorte mudou ao conhecer a Catarina, minha mais nova amiga, que está na mesma situação que eu - não somos mestrandos nem doutorandos, não temos vínculo com nenhuma instituição, mas não querermos sair da brincadeira.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Universidade: local do saber
Percebo a persistência e a insistência em se discutir a dicotomia entre a literatura como obra de arte e a literatura como componente da cultura de massa, interessada apenas na sua inserção mercadológica de modo a garantir, ao autor, dividendos lucrativos. Dessa forma, teríamos uma primeira disparidade, qual seja, o autor seria, no primeiro caso, um artista e, no segundo, um profissional. É possível, no entanto, falar em profissionalismo no terreno das artes? O artista é um profissional? Essa foi uma das questões levantadas no simpósio Pensamento teórico-crítico sobre o contemporâneo, na mesa Literatura, trabalho, pedagogia, com os professores Italo Moriconi, Ariadne Costa e Mario Cámara, durante as IX Jornadas Andinas de Literatura Latino-Americana.Ao colocar essa questão em termos opositivos como mercado vs. academia, circulação vs. erudição, arte vs. consumo, busca-se pensar em que medida a academia estaria contribuindo para o entendimento da prática literária na contemporaneidade. Discute-se adequações de currículos e políticas de incentivo e adaptação de maneira a contemplar e aceitar a nova prática literária vigente, e cobra-se da academia que ela se posicione, preferencialmente de forma a interagir com o novo. Uma das críticas mais comuns feitas à academia diz respeito a um conservadorismo que a privaria de ler a atualidade. No debate que se seguiu à fala dos três professores na mesa citada, surge da plateia a interrogação: mas a academia deve conservar ou criar? E a resposta, prontamente, foi dada também pela plateia: As duas coisas.
A cobrança de que a academia deve acompanhar as novas e novíssimas criações literárias - e que em certa medida é uma cobrança mais do que justa - perde terreno, a meu ver, quando se esquece que ela deve também preservar o cânone. Algumas vezes tenho a impressão de que, em nome da "massa de trabalhadores do literário", que muitas vezes é sinônima de "massa de amadores", valendo-me de expressões do Italo Moriconi, ataca-se o beletrismo como forma de justificar e validar nossa produção contemporânea. É claro que devemos entender a literatura contemporânea sob a luz da crítica e da estética contemporâneas, afinal seria um enorme anacronismo estudarmos literatura hoje tendo como parâmetro, por exemplo, Machado de Assis. Isso, contudo, não deve servir como prerrogativa para "apagarmos" o bruxo do Cosme Velho, a academia, o beletrismo etc. Concordo com Flávio Carneiro quando ele diz que hoje vivemos uma "transgressão silenciosa", não precisamos mais atacar o cânone para outorgar à literatura atual reconhecimento, valor.
Para finalizar, cito novamente o Italo Moriconi, ao dizer que "o fetiche literário é um bem", "temos que aprender a gostar de Shakespeare", por que não? Um texto hoje que se queira parecer com a escrita do dramaturgo britânico ou com Machado de Assis, para dar um exemplo da nossa literatura, seria um texto ilegível, mas isso não deve invalidar nossas bibliotecas. A universidade ainda é sim um espaço destinado ao saber, e isso é muito bom! Que ela consiga conjugar a esse saber canônico as novas formas de escrita da atualidade, sejam os blogs, as autoficções, os microcontos, etc.
Fico por aqui, sem conseguir chegar perto da totalidade das questões discutidas no evento, que foi bastante rico, mas deixo o meu pitaco.